Os esportes

emergentes

De nada adiantará se os esportes tradicionais fizerem sua parte e o Brasil não contar com as modalidades que aproveitaram o último ciclo olímpico para crescer. O Rio 2016 pode ser histórico para os esportes abaixo, que têm chances de conquistar sua primeira medalha em Jogos Olímpicos

 

 

Canoagem

O TALENTO

Isaquias Queiroz, 21 anos

Bicampeão mundial do C-1 500m, bronze no C-1 1000m no Mundial de 2013

O baiano de origem humilde já dava mostras do potencial em 2011, quando aos 17 anos foi campeão mundial júnior. Com a base bem trabalhada, os resultados começaram a aparecer também na categoria adulto, e a chegada de Jesus Morlán, técnico espanhol com cinco medalhas olímpicas no currículo, só ajudou.

Possibilidade de medalha

Nos últimos dois Mundiais, Isaquias conquistou dois ouros e um bronze. Foi campeão duas vezes na C-1 500m, prova que não faz parte do programa olímpico, mas também mostrou força na C-1 1000m, em que espera estar no pódio no Rio. Bronze no Mundial de 2013, Isaquias liderava a prova no ano passado quando caiu da canoa nos metros finais.

- As possibilidades de medalha são bem reais. Os resultados têm sido excelentes. Ele tem medalhado nas provas principais e competido de igual para igual com os atletas mais fortes da modalidade. Provou que é forte, também, na distância olímpica - analisa Sebastian Cuattrin, dono de nove medalhas pan-americanas na canoagem.

MAIS RECURSOS

A mudança de patamar da canoagem foi possível pelo maior investimento no esporte com a perspectiva da Olimpíada em casa. A Confederação Brasileira tem patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e é apoiada por grandes empresas como Itaipu Binacional, General Eletric e Unimed. Recebe, também, recursos da Lei Agnelo Piva, que distribui verbas das loterias federais entre as entidades esportivas, além de contar com financiamento da Lei do Incentivo ao Esporte.

O dinheiro permitiu que atletas como Isaquias competissem pelo mundo e ganhassem experiência. Além dele, há esperança na canoagem slalom, com a promissora Ana Sátila, de apenas 19 anos. Campeã pan-americana, pode até beliscar uma medalha se estiver em um dia inspirado.

 

 

Handebol

O TALENTO

Duda Amorim, 28 anos

Campeã mundial em 2013 e melhor jogadora do mundo em 2014

A catarinense de Blumenau atua na Europa desde 2005. Foi lá que ganhou experiência e chegou ao nível das melhores do mundo. Duda é a referência técnica da geração mais vencedora da história do handebol brasileiro.

Mundial IMPORTANTE

Passada a euforia com o título mundial de 2013, a seleção feminina de handebol tem, no final do ano, um bom teste para se consolidar entre as potências da modalidade. Para Bruno Souza, ex-jogador da seleção masculina e hoje secretário municipal de esportes e lazer de Niterói, o Mundial na Dinamarca pode ser um divisor de águas.

- Quando vencemos em 2013, foi uma surpresa muito grande. A gente já vinha evoluindo, estamos entre as cinco melhores equipes do mundo. Temos de manter uma regularidade. É difícil com tantas jogadoras no alto rendimento, o que ocasiona situações complicadas, como de lesão - lembra.

 

PARCERIA SERVIU COMO MARCO

Bruno vê como um marco para o handebol a parceria firmada em 2011 e já encerrada com o clube Hypo, da Áustria. A equipe abrigou várias jogadoras brasileiras após o acordo com a Confederação, permitindo que ganhassem experiência internacional e mudassem de nível.

Os resultados já ficaram evidentes em 2012, quando as meninas fizeram ótima campanha na primeira fase da Olimpíada de Londres, mas tiveram o azar de enfrentar a Noruega, que tropeçou no início da competição, logo nas quartas de final. As norueguesas venceram e seguiram adiante no caminho até o ouro olímpico.

Hoje o Brasil tem Duda, a melhor jogadora do mundo, e faz parte de um seleto grupo de cinco países na elite do handebol feminino. Divide a honra com Sérvia, Noruega, Dinamarca e Espanha. Bruno alerta que há equilíbrio total entre os concorrentes, o que significa que duas potências devem ficar de fora do pódio no Rio.

Levantamento

de peso

O TALENTO

Fernando Reis, 25 anos

Bicampeão dos Jogos Pan-Americanos

Está na força do paulista a esperança do levantamento de peso brasileiro trazer sua primeira medalha. Bicampeão pan-americano, Fernando Reis evoluiu a ponto de levantar 427kg somados entre o arranco - em que o peso é erguido em um movimento do chão até acima da cabeça - e o arremesso - em que o atleta leva o peso até a altura dos ombros antes de levantá-lo acima da cabeça. A marca lhe colocaria na quinta posição no último Mundial.

A RELAÇÃO ATLETA-CONFEDERAÇÃO

Treinado pelo cubano Luiz Leal no Esporte Clube Pinheiros, Fernando já reclamou de uma suposta falta de valorização de seu treinador pela Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP). O atleta questionou o motivo de seu técnico não ser contratado pela confederação. Enrique Dias, presidente da CBLP, explica:

- O relacionamento com o Fernando e com seu técnico é ótimo. Há alguns fundamentos legais que impedem a contratação. Ele (Luiz Leal) está em processo de renovação de visto. Independente dessa situação, 100% do que foi solicitado por eles foi atendido.

A CBLP pretende se reunir em breve com Fernando e sua equipe para fazer "ajustes finos" no planejamento da principal referência da modalidade.

 

O FUTURO

Há esperança de medalha, ainda que os dirigentes reconheçam que a missão é difícil. Mas enquanto a modalidade sonha com um momento histórico, há quem reclame da falta de investimentos na base.

- Houve crescimento do levantamento de peso, porém a formação de novos atletas, que é o que a gente pretende, ainda não é a ideal. O que tem de mudar é que, para formar atletas de alto rendimento, é preciso investimento na base, dos 11 aos 14 anos. Isso, no país inteiro, não é feito - reclama José Schneider, diretor técnico da Federação Gaúcha de Levantamento de Peso (FGLP).

Dias, porém, lembra os ótimos resultados do Brasil no último Mundial júnior, no Peru, para garantir que o futuro da modalidade. Na ocasião, a delegação brasileira conquistou seis medalhas - antes do evento, o levantamento de peso só tinha um pódio na história dos Mundiais de todas as categorias.

 

 

Polo aquático

O TALENTO

Seleção INTERNACIONAL

Felipe Perrone, 29 anos

Melhor jogador da Liga dos Campeões da Europa

CRÍTICA E RESPOSTA

Em meio a uma seleção com vários naturalizados, o maior reforço vindo de fora é bem tupiniquim. Felipe Perrone, que esteve em duas Olimpíadas com a Espanha, nasceu e cresceu no Brasil. Deixou o país e defendeu os europeus em busca de uma seleção competitiva. Um dos melhores jogadores do mundo, foi repatriado. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) considerava seu "retorno" como um dos pilares do planejamento olímpico.

 

- Foi uma estratégia de priorizar a equipe olímpica. Entendo o projeto e acho que a vinda dessa comissão técnica é muito proveitosa, mas gostaria que se fizesse um esforço maior para difundir a modalidade. Não vejo este como um projeto de longo prazo - critica Gabriel Karnas, ex-diretor de polo aquático da Federação Gaúcha de Desportos Aquáticos (FGDA).

- Não foi um plano de ir no Exterior "comprar jogadores". Nós estamos dando visibilidade ao polo aquático e temos a esperança de que, assim, possamos atrair investimentos e deixar de depender de recursos públicos. Algumas modalidades não aproveitaram a oportunidade de uma Olimpíada em casa. Nós estamos aproveitando - rebate Ricardo Cabral, supervisor técnico da CBDA.

Uma equipe carregada de sotaques tentará a primeira medalha do polo aquático brasileiro. A seleção masculina deverá ter, no Rio, cinco jogadores que não nasceram no Brasil.

Ives Gonzales é cubano e estabeleceu laços com o país quando se casou com uma brasileira. Paulo Salemi vivia na Itália mas tem parentes brasileiros, mesmo caso do espanhol Adrian Delgado. O croata Josip Vrlic e o sérvio Slobodan Soro jogam em equipes brasileiras. Outro objetivo da CBDA era a contratação de um técnico estrangeiro vencedor. A meta foi cumprida com honras: Ratko Rudic, croata que comandou quatro seleções campeões olímpicas, aceitou o convite. Com o time reforçado, a seleção conseguiu o surpreendente bronze na Liga Mundial deste ano, na Itália. Hoje, briga quase de igual para igual com potências como Croácia, Sérvia, Hungria, Montenegro, Austrália e Itália, entre outras.

 

Tiro com arco

O TALENTO

DIFICULDADES BUROCRÁTICAS

Marcus Vinicius D'Almeida, 17 anos

Campeão mundial júnior

Marcus Vinicius D'Almeida surpreendeu o mundo ao ser vice-campeão de uma etapa da Copa do Mundo adulta na Suíça, no ano passado. É o menino prodígio que faz com que o tiro com arco brasileiro sonhe com medalhas na Olimpíada.

FORÇA PSICOLÓGICA

Quem acompanha Marcus Vinicius se impressiona com sua força psicológica.

- Quando tem um atleta se destacando em uma competição, o Marcus Vinicius quer enfrentar justamente esse atleta. Ele é movido a desafios - relata Fernando Wolff, técnico catarinense que acompanhou, como auxiliar, algumas das competições internacionais do atual ciclo.

- Ele reage muito bem a qualquer acontecimento, mesmo os negativos. Teve um momento muito ruim nessa temporada por conta de uma questão técnica. Acabou sabendo reagir, foi medalha de ouro no mundial juvenil. Isso tudo depois de se criar toda uma expectativa em cima dele - elogia o italiano Eros Fauni, diretor técnico da Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO).

 

A evolução do tiro com arco é evidente. A estratégia de reunir jovens talentos em um local onde moram e treinam foi decisiva. A dedicação exclusiva ao esporte alavancou os resultados, mesmo que o corpo técnico estrangeiro ainda estranhe algumas particularidades bem brasileiras.

- Nós temos que importar o equipamento e chegamos a esperar quatro meses para que ele fosse liberado na alfândega. Como europeu, tenho dificuldade para entender algumas coisas do Brasil. Normalmente, se faz uma estrutura esportiva para depois sediar uma Olimpíada. Aqui, foi o contrário. O pior, ou o melhor (risos), é que acaba dando certo - diverte-se Fauni.