o futuro da mundo

Quem vem de longe vê, no espaço, o globo azul, as nuvens, os continentes. Não ouve bombas, choros, motores ou aviões. A Terra viaja em silêncio.

À revelia das nossas guerras, da tecnologia de ponta, da fome não erradicada, o planeta ruma para o futuro. E nós, rumamos para onde?

no fim das contas, um equívoco matemático:

há mundo para todos,

mas a divisão resulta desigual.

 

 

Habitamos um mundo em franco desenvolvimento tecnocientífico que, paradoxalmente, vive o medo constante do aniquilamento. O planeta que suportará 3 bilhões de seres humanos a mais em 2050 é redondo, mas cheio de cantos.

 

– Uma vez perguntei a um professor: a humanidade evoluiu? Ele disse: se alinhar os grandes momentos históricos da humanidade, você vai dizer que evoluiu bastante. Mas os problemas centrais que a humanidade enfrenta há séculos, fome e miséria, não foram resolvidos, e ainda foram criados novos – pondera Silvia Ferabolli, doutora em Política Internacional pela Universidade de Londres. – A pergunta é “qual humanidade?”. Representada pelo homem branco europeu ou pela mulher negra africana muçulmana? – questiona Silvia, professora do UniRitter e da Unisinos.

 

Adotada em setembro por todos os países-membros da ONU, a Agenda 2030 estabeleceu 17 prioridades a serem buscadas nos próximos 15 anos. Erradicar a pobreza e a fome, promover igualdade de gênero e estimular consumo responsável estão entre os objetivos (veja todos abaixo). Resta torcer para que o acordo seja respeitado – o histórico recente não é animador, com a guerra sendo travada na Síria apesar de tentativas de mediação pela organização.

 

As edições anteriores de Rumo anteciparam, com base em relatórios de agências da ONU, tempos de escassez de água, de comida, de saúde e de mobilidade. Cada vez mais longeva, a população mundial envelhece na cidade – este modelo de ocupação que reproduz, ao redor do mundo, a certeza concreta de que há pouco centro para tanta periferia.

 

O planeta se apresenta como um espetáculo que uns curtem do conforto espaçoso da pista VIP, enquanto a maioria se amontoa na lama. A economia é global, mas os conflitos são locais, fragilizam e afligem populações que só conhecemos na tragédia. Quando buscam refúgio à nossa porta, nem sempre somos acolhedores.

 

– Há xenofobia e ódio no mundo inteiro – reconhece

André Olivier, coordenador do curso de Direito da Unisinos. – Mas, ao mesmo tempo, nunca houve tantos Direitos Humanos. Mesmo quem critica a discussão sobre esses direitos exerce seu direito humano à livre expressão – pondera.

 

Primeira mulher a comandar o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da ONU, a neo-zelandesa Helen Clark afirmou que urbanização, pressão populacional sobre os recursos naturais, mudança climática e ascensão geopolítica do Sul (com ondas de democratização, emergência de potências econômicas e cooperação entre países do hemisfério) definirão o mundo de 2050. Nesta última edição de Rumo em 2015, reunimos diferentes visões sobre que mundo será esse, que potências ditarão seus caminhos, que forças nos salvarão de nós mesmos.

 

 

 

Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável

Os 193 Estados-membros da ONU assinaram o documento Transformando Nosso Mundo, comprometendo-se com:

 

1 :: erradicação da pobreza

2 :: erradicação da fome

3 :: saúde de qualidade

4 :: educação de qualidade

5 :: igualdade de gênero

6 :: água limpa e saneamento

7 :: energias renováveis

8 :: empregos dignos e crescimento econômico

9 :: inovação e infraestrutura

10 :: redução das desigualdades

11 :: cidades e

comunidades sustentáveis

12 :: consumo responsável

13 :: combate às

mudanças climáticas

14 :: vida debaixo da água

15 :: vida sobre a terra

16 :: paz e justiça

17 :: parcerias pelas metas

:: DE TRÁS PRA FRENTE

1990

1985

Imaginar o futuro no século passado não era tarefa das mais animadoras. Depois de uma primeira metade marcada pela devastação de duas grandes guerras, o mundo polarizado da Guerra Fria fazia parecer que o futuro era uma utopia redentora – ou uma inevitável tragédia.

Em 1990, o presidente americano George H. W. Bush proferiu um discurso histórico, e nem por isso menos contraditório. Disse o Bush pai, ao justificar a liderança dos EUA na Guerra do Golfo: “Até agora, o mundo que conheço tem sido um mundo dividido, um mundo de arame farpado e blocos de concreto, conflito e guerra fria. Agora, podemos ver um novo mundo ficando à vista. Um mundo no qual existe a perspectiva muito real de uma nova ordem mundial. Um mundo onde a ONU, livre do impasse da Guerra Fria, está preparada para concretizar a visão histórica de seus fundadores. Um mundo no qual a liberdade e o respeito pelos direitos humanos encontram um lar entre todas as nações”.

Autor da ficção científica O Jogo do Exterminador (1985), Orson Scott Card registrou, em 1987, uma série de previsões para 2012: “Colapso econômico mundial custará aos EUA seu papel dominante”, “nações da América Latina verão crescer a tensão entre aristocratas e proletários”, “novos centros de poder emergirão nas regiões onde segurança e estabilidade forem conquistadas”. A cápsula do tempo foi lacrada em uma cerimônia no World Trade Center e guardada em um cofre para ser aberta 25 anos depois, escapando à queda das torres, em 2001.

1981

1979

O livro World of Tomorrow: School, Work and Play, de 1981, imaginou dois futuros que se misturam no presente: um em que os governos monitoram, pelo computador, os passos dos cidadãos. Outro em que os computadores viabilizam a democracia direta (imagem na galeria), com participação ativa da sociedade nas decisões políticas. Outra edição da série de livros, sobre a guerra, previu que soldados talvez tivessem de travar mais conflitos internos com terroristas do que guerras internacionais.

Em 1979, um artigo na seção Panorama de ZH constatou o enfraquecimento do Estado-nação
com o surgimento de grupos separatistas.

O processo conduziria, gradativamente, a “uma nova ordem social”, com “repúdio à massificação e ao consumismo”.

1950

1940

Em janeiro de 1950, o jornalista Vincent Sheean previu o fim do Estado-nação até o ano 2000. “Podemos estar certos de que o mundo será um só. Seja pela guerra ou pela paz. Não há alternativa”, apostou Sheean. À sombra da ameaça nuclear, ele ponderou: um mundo sob a hegemonia de um país, fosse os EUA ou a URSS, seria “profundamente indesejável, porque a civilização terá sido sacrificada em seu nome”.

Na década de 1940, o escritor britânico H. G. Wells imaginou que a “nova ordem mundial” seria regida por um Estado global, com economia planificada ao estilo de experiências socialistas.

texto

Fernando Corrêa

 

 

design

Leonardo Azevedo

Henrique Tramontina

livro de 1981 imaginou que computadores viabilizariam

a democracia direta

 

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