Publicado em 4 de setembro de 2015
"Dia histórico para o rock gaúcho", era o que prenunciava o 2º Caderno de 11 de setembro de 1985 sobre o festival Rock Unificado. Não era para menos: o show foi a semente que deu origem ao álbum Rock Grande do Sul, disco que colocaria o rock gaúcho no mapa da indústria musical brasileira. Trinta anos depois, relembre o momento que mudou a música do Estado.
texto
Alexandre Lucchese
alexandre.lucchese@zerohora.com.br
Edição de texto
Patrícia Rocha
Francisco Dalcol
Captação e edição de vídeo
Fabrício Almeida
REPORTAGEM
Alexandre Lucchese
Fabrício Almeida
Lucio Brancato
Porã Bernardes
Fotos
Dulce Helfer
Lisette Guerra
Acervo do Curso Unificado
Divulgação das bandas
Design
Hélène Boittelle
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Depois do show, Claudinho Pereira e Tadeu Valerio passaram à discussão das bandas que deveriam entrar na coletânea. O critério de seleção era o ineditismo e a capacidade do som das bandas em se adaptar ao novo rock que surgia nas rádios brasileiras dos anos 1980. As escolhidas foram Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, Os Replicantes, TNT e DeFalla.
Esta última foi a única que não tocou no Rock Unificado, mas foi defendida por Claudinho Pereira por ser uma banda de vanguarda, com potencial para conquistar a crítica e ditar tendências.
– Houve ranço de bandas mais velhas, e até mais estruturadas, mas nosso foco era a gurizada – diz Claudinho Pereira.
Algumas logo se empolgaram com a possibilidade de assinar contrato com uma grande gravadora, outras, no entanto, não se convenceram tão facilmente. Os Replicantes, por exemplo, deram um chá de banco de uma hora no diretor artístico da RCA, Guti Carvalho, e impuseram – com sucesso – suas condições:
– A gente disse: "Vocês até podem escolher o produtor, mas nós é que escolheremos as músicas que vamos gravar e como serão gravadas. E tem mais: a gente só assina contrato para a coletânea se a gravadora se comprometer a gravar também um álbum só da banda" – conta Gerbase.
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Com medo de que a gravadora pudesse forçar a barra para tornar as músicas mais comerciais, muitas bandas tomaram medidas para se proteger. A principal foi evitar fazer as gravações nos estúdios do Rio, onde ficavam os produtores conhecidos como mãos-de-ferro. Assim, Os Replicantes, Engenheiros do Hawaii e Garotos da Rua foram parar em São Paulo, onde o clima de liberdade era maior. Ao lado dos produtores Luiz Carlos Maluly e Reinaldo Barriga Brito. Já TNT e DeFalla ficaram no Rio, com produção de Joe Euthanázia e Torcuato Mariano, respectivamente. Biba Meira, baterista do DeFalla, conta que, em meio ao deslumbramento de ter sido descoberta por uma grande gravadora, a banda sequer pensou em negociar outro local de gravação:
– A gente foi direto para o Rio porque achou o máximo o convite!
Estimado por dar liberdade aos músicos e deles conseguir extrair seu melhor, Barriga acabou sendo figura central no rock gaúcho oitentista, gravando também os primeiros álbuns individuais de todas as bandas do Rock Grande do Sul, assim como do Nenhum de Nós.
– As bandas chegavam verdes, sem muito conhecimento técnico nem instrumentos com precisão para estúdio. Não tinham nada, era preciso construir do início. Mas nada era inventado, tudo saía muito naturalmente. E, quando havia algum conflito com a indústria, eu sempre ficava do lado dos aventureiros, porque só assim conseguia extrair alguma verdade deles para colocar nos discos – relembra Barriga.
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Lançado em janeiro de 1986, o Rock Grande do Sul não ficou marcado como um sucesso de vendas, mas a execução massiva nas rádios e as turnês de divulgação abriram caminho para o lançamento dos álbuns individuais das bandas, que venderam centenas de milhares de cópias.
– Esse foi o disco que tirou o rock gaúcho da garagem – resume Pereira.
Para Gerbase, o álbum impulsionou a cena local de modo inédito até então:
– O Rock Grande do Sul colocou o rock gaúcho no mapa da música brasileira. Com ele, as bandas subiram um degrau de modo muito rápido, com mais circulação, mais shows, mais espaço nas rádios e expectativas mais altas.
Para o crítico musical Juarez Fonseca, trata-se do registro de um divisor na música popular do Estado:
– A gente não conta muitos momentos como o Rock Unificado na história de Porto Alegre. O Rock Grande do Sul lançou cinco bandas fundamentais do Estado, fazendo justiça a uma cena que era forte e que finalmente teria algum destino fora dos pequenos espaços daqui.