Felipão entrou na sala de Fábio Koff e deparou com o jovem franzino de cabelo descolorido em corte chanel naquele janeiro de 1995. O vice de futebol Cacalo fez as honras:

– Felipão, esse é o Paulo Nunes, nosso novo atacante.

–  Hummm. Esse magrinho jogar aqui... Não sei, não – disse o técnico.

– Calma, vamos ver se vai dar certo. Vamos com ele – disse Koff.

 Todas as atenções na sala estavam em Magno. Era ele que o Grêmio desejava para completar o pagamento de Agnaldo, vendido por US$ 600 mil e mais três emprestados (o lateral Henrique desistiu).

No Rio, dias antes, o presidente do clube carioca, Kleber Leite, havia avisado Paulo Nunes de que estava sem espaço. O  ataque seria o dos sonhos (Sávio, Romário e Edmundo). Paulo Nunes ainda insistiu. Havia ido mal em 1994, mas a causa era a recente cirurgia no joelho. Kleber encerrou o assunto:

– Você tem oferta do Atlético-MG e uma que deve vir do Grêmio. Ou vai ou será afastado.

Paulo Nunes se reuniu com o irmão seminarista, que era seu agente, e decidiu-se pelo Grêmio.

– Fui de contrapeso do Magno. A Libertadores me motivou. Havia disputado duas e gostava da competição. Percebi que seria o ideal para dar a volta por cima.

Magno se machucou nos treinos e Fabinho havia saído. Felipão não teve saída. Colocou o magrinho no ataque na pré-temporada. Semanas depois, entregou-se:

– Meu filho, se continuar treinando assim, não te tiro mais.

Paulo Nunes diz ter sido obra de Deus colocá-lo no Grêmio. Havia chegado com propósito de retornar ao Flamengo por cima. Em 15 dias, parecia em casa em Porto Alegre. Em dois meses, nem pensava mais em voltar ao Rio.

Hoje vivendo em Goiânia, onde administra um centro esportivo, suas fazendas e os investimentos em uma construtora, o avô da Ísis, de um ano, e pai de um engenheiro e de um estudante de medicina, se espanta:

– Já faz 20 anos, passa voando.

 

 

Na Gávea, Magno era Romagno. O arranque, a velocidade e o faro de gol estreciam o Maracanã. O jovem paranaense desceu no Grêmio com passe fixado em US$ 1 milhão e titular de Felipão.

A paixão gremista por Magno começara no Brasileirão, quando o atacante criou a jogada para o gol de Nélio em vitória no Olímpico.

– Sabia que Felipão me queria muito. Era rápido, seria útil na Libertadores – recorda o ex-jogador, que também tinha propostas de São Paulo e Corinthians, mas optou pelo sossego de Porto Alegre.

Magno ia bem até a lesão contra o Flamengo, no Maracanã, pela Copa do Brasil. Com ruptura no ligamento cruzado anterior do        joelho direito, deveria voltar em seis meses. Antes do quarto mês         já estava a serviço de Felipão outra vez. Perdeu boa parte da Libertadores.

– Fiquei chateado por não decidir a Libertadores. Mas alegre pelo time. Foi um dos melhores grupos em que trabalhei – diz.

Magno ainda rodaria por Holanda, Espanha e Chipre antes de encerrar a carreira e fixar endereço em Canoas. Em 1995, além da Libertadores, havia ganho o coração da gaúcha Leila.

 

Os jornais de 9 de fevereiro de 1995 não registraram o desembarque de Jardel, ocorrido na véspera. Nono reforço para a Libertadores, o centroavante de 21 anos e 1m86cm vinha com fama de tosco. No máximo, seria reserva de Magno. Não por acaso, o XV de Piracicaba o assediava. O Vasco cobrou barato pelo empréstimo – US$ 80 mil. Mas acautelou-se com a multa rescisória de US$ 1,2 milhão.

A lenda Jardel começou a tomar forma seis dias depois. Foi dele o gol no 1 a 0 na Desportiva-ES, em Vitória, pela Copa do Brasil. De cabeça, como a maioria dos 66 que faria 18 meses de Grêmio. A maioria deles comemorado com um beijo na camiseta, que logo depois era puxada com as mãos.

Assim, ele acabou aquela Libertadores como grande nome do Grêmio e goleador, com 11 gols. Cinco deles no Palmeiras.

Jardel é sucinto para descrever a trajetória de sucesso no Grêmio:

– Foi o destino, encaixou.

O orgulho fica maior quando fala sobre a reação dos                 adversários. Em 2014, em evento em Fortaleza, ouviu                              o ex-ministro Aldo Rebelo apontar em sua direção:

– Esse matou o meu Palmeiras.

Era uma referência aos 5 a 0 do Olímpico, pelas quartas de final, jogo em que Jardel diz ter sentido que o título seria possível.

Ainda que vivessem no Rio, só no Grêmio se tornou amigo de Paulo Nunes, com quem formaria uma das maiores duplas da história do clube.

– Era a parceria dos sonhos. A dupla que o Grêmio gostaria de ter hoje – sorri.

 

 

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