Amansão de cinco suítes, sala de cinema, discoteca, mesa de bilhar, jardins e campo de futebol instalada no alto do rico bairro Dunas, em Fortaleza, é o símbolo dos tempos de opulência do então supergoleador Jardel. Da região é possível contemplar o deslumbrante mar azul-turmalina e alcançar em minutos a concorrida Praia do Futuro. Seus vizinhos são empresários, celebridades e políticos como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O humorista Tom Cavalcante mora na mesma rua.

Pois o casarão não pertence mais a Jardel. Foi vendido por R$ 5 milhões, com R$ 1 milhão à vista e o restante parcelado.

Quem comprou foi o sogro, pai da atual mulher de Jardel, Sandra Aguiar. O novo senhor da residência é dono da Uniboi, rede de 18 lojas de carnes em Fortaleza.

Mas Jardel continua ocupando a residência. Quando está na cidade, o deputado se hospeda na mansão que foi sua até cinco anos atrás. O parlamentar ficou na casa durante o recesso.

A mansão que foi de Jardel, no bairro Dunas, em Fortaleza

Vizinhos próximos na tranquila rua do Dunas não acreditam em relação amistosa entre sogro e genro.

— Eles se suportam. Jardel convive na casa porque está casado com a filha do dono — afirmou uma antiga moradora do bairro, sem se identificar.

Nos últimos anos, não havia como manter a moradia de cerca de 2 mil metros quadrados defendida por muro alto e cerca elétrica. Já vagueando por clubes pequenos ao final da carreira e assinando contratos insuficientes para seu padrão de vida, Jardel tinha de fazer dinheiro. Chegou a colocar a moradia à venda por 4 milhões de euros (cerca de R$ 17 milhões) antes de 2010. O preço despencou, parte por falta de manutenção. Acabou sendo negociada por um terço do pedido inicial. Com a bolada da mansão, Jardel comprou em Porto Alegre o apartamento que ocupa próximo ao shopping Iguatemi. Pagou R$ 800 mil.

A perda da mansão marca o enxugamento do patrimônio erguido quando jogador. Um duplex na Foz do Douro, à beira do mar na cidade portuguesa do Porto, tomou o mesmo rumo.

A residência do Dunas representou o lar do primeiro casamento, com Karen Matzenbacher. São correntes em Fortaleza histórias da mansão — de antes e depois da bebida e das drogas, antes e depois da separação com Karen, antes e depois da passagem por Lisboa, no Sporting.

Adquirida na fase rutilante de goleador do Futebol Clube do Porto, de Portugal, a moradia é dos tempos em que o brasileiro se tornou um dos ídolos mais caros do futebol, na virada dos anos 2000. De férias, Jardel, Karen e os filhos passavam a maior parte do tempo em Fortaleza.

Festas rumorosas marcaram o bunker. Jogadores famosos passaram férias no Ceará a convite de Jardel. Deco, Sérgio Conceição e Vítor Baía foram alguns deles. O atacante holandês Van Nistelrooy, conhecido de confrontos entre clubes, atravessou o oceano para curtir o sol e bater bola no campo de futebol society da casa das Dunas. A apenas cinco horas de viagem de Portugal, a água quente do litoral cearense é destino tentador ao europeu. Se o anfitrião era Jardel, tudo ficava mais divertido.

O casamento com Karen Matzenbacher na época do Grêmio

Banco de Dados, Dulce Helfer, 18/12/1995

Artistas locais animavam as noites na mansão. O mais frequente era o cantor Fagner, amigo desde a adolescência, do início da carreira no Ferroviário, em Fortaleza. Até hoje Fagner envia mensagens de apoio ao deputado. Com insistência, o aconselha a levar uma vida sem problemas.

Em quatro temporadas no Porto, entre 1996 e 2000, o brasileiro consolidou fama, patrimônio e vida de fausto. Venceu o campeonato português ano a ano e em todos foi goleador. Marcou 130 gols em 125 jogos no período e mereceu o apelido de Super Mário, personagem de jogos de videogame.

Um dos melhores amigos de Jardel no Porto, o zagueiro gaúcho Aloísio Alves o conduzia às reuniões de atletas evangélicos e frequentou o duplex da Foz do Douro e suas praias de águas frias. Por duas vezes visitou a mansão do Dunas.

— Já estava no Porto, e a gente assistia na TV aos jogos do Grêmio pela Libertadores, os portugueses ficavam loucos. Quando ele chegou, logo conquistou o pessoal com brincadeiras e virou herói com gols e títulos em sequência, enfrentou o frio do norte do país e nunca se queixou. É pessoa espetacular. Nossos filhos eram pequenos, e a gente convivia muito bem. Nunca reparei qualquer mudança de comportamento dele — contou o ex-zagueiro Aloísio.

Na sala de troféus da mansão, durante a entrevista em que admitiu o uso de cocaína

Reprodução RBSTV

 

 

 

Campo de futebol nos fundos da mansão: Romário e Deco bateram bola nele

Diego Vara

 

 

 

 

 

Karen Matzenbacher sustentou os primeiros anos de casamento em Portugal. Enquanto o marido vivia em viagens e concentrações, ela cuidou dos filhos e ainda jogou vôlei.

— Ela se ocupava de tudo e mantinha um caderno com anotações dos gols, jogos, títulos e viagens de Jardel na fase do Porto — lembrou o jornalista Paulo César Norões.

Em um recinto de cinco por sete metros tomado por taças e camisetas dentro de armários envidraçados e gavetões, a sala de troféus da mansão, juram em Fortaleza, tem o toque de Karen.  Fotos de quase todos os momentos da carreira estão nas paredes, entre elas a da passagem pela Seleção Brasileira, em 2001.

Tempos depois, em visita à mansão, Romário, melhor jogador do mundo e da Copa de 1994, teria dito a Jardel:

— Estou abismado. Eu mesmo não tenho tanta variedade de camisetas.

O casal se conheceu na entrega dos prêmios dos melhores do futebol gaúcho em 1995. Karen era modelo deslumbrante, morena de olhos verdes em 1m79cm, 64kg, 64cm de cintura e 94cm de quadril. Havia sido capa da revista Playboy em abril daquele ano e, antes disso, morado na França, com o então namorado Márcio Santos, zagueiro campeão do Mundo na Copa de 1994.

Um dia, Jardel chegou aos gritos na concentração dizendo que havia roubado a mulher de Márcio. Os jogadores do Grêmio tentaram demovê-lo da ideia.

Então aos 22 anos, pela primeira vez o rapaz não ouviu os colegas. Apaixonado, telefonava escondido para a modelo de 24 anos, com quem casou com pompa na Catedral Metropolitana de Porto Alegre em 8 de dezembro de 1995.

Jardel continuou ouvindo zombarias de Paulo Nunes, Arilson, Carlos Miguel e Adilson, seus amigos de ascendência no grupo e de carteado. Eles o logravam grosseiramente no jogo 21. Jardel jamais ganhava e sofria repetidos petelecos que lhe ardiam as orelhas.

Evangélico, Luiz Carlos Goiano dividia com o atacante o quarto da concentração no Estádio Olímpico. Conversavam longamente.

— Ele frequentou nossas reuniões dos atletas de Cristo na concentração, mas não sabia discernir muita coisa. É pessoa muito querida, sem maldade, mas inocente demais. Ele orava com a gente, lia a Bíblia, mas, se alguém o chamasse para a noite, saía correndo — diz Goiano.

O técnico Luiz Felipe Scolari e a comissão técnica sabiam do destino de Jardel nas folgas em casas noturnas e bares da Capital, embora não se atrasasse na reapresentação e não aparecesse com vestígio de álcool.

O perfil ingênuo e compulsivo marcou a carreira. Após as temporadas como rei do futebol português pelo Porto, quando o Galatasaray, da Turquia, bancou em 2000 multa rescisória astronômica e o levou para Istambul, o atacante retribuiu com gols decisivos no título da Supercopa europeia contra o poderoso Real Madrid. Embolsou outro quinhão de dólares e logo não se sentiu à vontade na cultura estranha. Pediu para sair no primeiro ano de um contrato de quatro. Retornou em 2001 a Portugal, desta vez pelas cores do Sporting.

À época, Jardel levou para a Europa o irmão George, que tentou jogar no Porto. César também atuou no Exterior. E Jordana, então com 16 anos, namorou Cristiano Ronaldo, ainda nos juniores do Sporting.

Nascidos no Porto, os dois filhos de Jardel e Karen vivem em Portugal com a mãe. Ela já conduziu um programa esportivo, o Na Karen do Gol, de entrevista com mulheres de jogadores na televisão portuguesa.

No Palácio Piratini, Jardel mostra a taça da Libertadores diante da torcida na Praça da Matriz

BD, Paulo Franken, 31/8/1995

Antes da cerimônia do casamento, com o pai, César Ribeiro, e a mãe, Maria de Fátima

BD, Dulce Helfer, 8/12/1995

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