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Mais de um ano após a morte da artista Gisela Waetge (1955 – 2015), a trajetória de sua obra ganhará um novo capítulo. A convite do Instituto Ling, os curadores Luísa Kiefer e Eduardo Veras – filha e amigo de Gisela –, adentraram seu ateliê e descobriram trabalhos nunca expostos. A exposição que eles inauguram hoje nasce da vontade de exibir essa produção.
– A nossa proximidade nos autorizou a entrar no ateliê e a encontrar o que a gente sabia que ela queria mostrar – explica Luísa Kiefer, que costumava ajudar a mãe nas montagens de suas exposições e atualmente faz doutorado em História, Teoria e Crítica de Arte.
– Alguns trabalhos ela própria já tinha mandado emoldurar, o que expressava um desejo de expor – completa o professor Eduardo Veras, responsável pela curadoria de outra mostra de Gisela, Base 12 – Base 9, que teve lugar no Museu do Trabalho em 2012.
A dupla levou cerca de 50 obras para a galeria do Instituto Ling. Quase todas são desenhos produzidos entre 2008 e 2015. As exceções são três pinturas de dimensões maiores, duas de 2005 e uma de 2012. No centro da exposição, há uma mesa com estudos que mostram o processo de criação da artista. Quem acompanha o trabalho de Gisela, considerada um destaque da geração 80 da arte gaúcha, vai reconhecer na mostra as marcas de seus trabalhos, que lançam mão de linhas, pontos, círculos e formas geométricas.
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– Ela combina uma formulação rigorosa, que tem a ver com matemática e arte conceitual, com algo que também é sedutor, bonito – resume Veras.
– Muitas séries eram determinadas por uma fórmula que ela usava para construir grades de pinturas. Tinham um princípio matemático sofisticado. Ela divide o espaço em quadros de 9x9cm e por cima aplica uma grade com quadros de 12x12cm. E isso cria uma malha que confunde o olhar, e até mesmo cria a ilusão de volume no plano.
Grande parte das obras da mostra foram realizadas nos dois últimos anos de vida da artista, como o conjunto de desenhos sobre folhas de um caderno de partituras. Nesse período, Gisela já convivia com o diagnóstico de câncer no ovário. Apesar de seguir lutando contra a doença até 6 de agosto de 2015, quando morreu, aos 60 anos, a artista acelerou o ritmo de trabalho. Algo que torna a exposição comovente é perceber como as obras desse período estão ligadas ao seu estado de saúde. As limitações físicas fizeram com que ela trocasse as grandes escalas por suportes menores.
– As questões que ela resolvia numa área de 6m2 ou 3m2, ela começa a resolver numa folhinha de papel. Então deixa de ficar um mês trabalhando em uma obra, como ficava na pintura, mas um dia, uma tarde, o que torna a experimentação muito mais rápida – considera Veras.
– Ela sempre foi uma pessoa muito ativa, naquele momento ela tinha menos energia, mas era difícil admitir isso, e se manter produzindo numa escala menor ajudava. Não era simplesmente "ocupar o tempo", era uma ânsia de produzir, talvez sabendo que não teria tempo para fazer tudo que desejava – lembra Luísa.Ao falar da exposição, os curadores fazem questão de fugir de palavras como "tributo" e "homenagem". Preferem o termo "continuidade".
– Uma retrospectiva ainda poderá e deverá ser feita, mas em outro momento e lugar. Nossa pretensão é fazer a exposição que ela não pôde fazer – diz Veras.
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Exposição Gisela Waetge
Galeria do Instituto Ling (Rua João Caetano, 440), fone (51) 3533-5700.
Abertura nesta terça-feira (29/11), com visitação de 30 de novembro a 31 de março de 2017, de terça a sexta, das 10h30min às 22h; sábados, das 10h30min às 22h; domingos, das 10h30min às 20h. Entrada Franca.
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