
Filmes como Minha vida sem mim (2003) e A vida secreta das palavras (2005) mostraram a diretora espanhola Isabel Coixet como uma talentosa referência em dramas densos sobre impasses afetivos e traumas emocionais observados pelo ponto de vista feminino. Mas, desde a decepcionante adaptação do livro O animal agonizante, de Philip Roth, em Fatal (2008), o se observava como a virtude da contenção na filmografia da diretora catalã diluiu-se nos excessos melodramáticos.
Ninguém deseja a noite, em cartaz em Porto Alegre, ilustra essa irregular trajetória. Trabalhando novamente com uma grande atriz (sua protagonista aqui é a francesa Juliette Binoche), Isabel apresenta uma trama inspirada na história real do explorador americano Robert Peary, autor da contestada façanha de ter sido o primeiro homem a alcançar o Polo Norte, em 1909. A protagonista é Josephine Peary, sua mulher, uma azeda ricaça que deixa o luxo e o conforto de Manhattan para encontrar o marido no território inóspito.
A tensão dramática é buscada no choque físico e cultural da geniosa Josephine com uma esquimó (Rinko Kikychi), convivência que evolui da rejeição à empatia. As boas intenções da trama, porém, não se traduzem em bom cinema. Os conflitos, quando surgem, não avançam além da platitude gelada. E a atuação de Juliette reflete o marasmo. A excepcional atriz se impõe em cena com exageros de tom e postura, como se buscasse compensar com sua presença a falta de viço do conjunto. Após a fria recepção no Festival de Berlim, Isabel fez cortes na duração do filme e adicionou uma narração da personagem Josephine, iniciativa que, pelo que se vê, pouco ajudou na missão de salvamento.
Onde ver: Espaço Itaú 7 (17h, 21h40) e Guion Center 2 (13h45, 17h30, 21h20)