Cinema

Peso pesado

Documentário conta a história da banda Sepultura 

Filme que estreia nesta quinta-feira destaca a ascensão mundial do grupo mineiro formado em 1984 não tem participação dos irmãos Cavalera 

Marcelo Perrone

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Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura

O aviso nos créditos finais do documentário Sepultura Endurance é reiterativo para os fãs mais da banda mineira que colocou o Brasil no mapa da divisão peso pesado da música internacional: "Max e Iggor Cavalera se recusaram a participar deste filme". E não apenas se recusaram, mas também restringiram o uso de faixas com suas participações na autoria de música ou letra.

O que se vê e ouve dos irmãos Cavalera na produção que entra em cartaz nesta quinta-feira no Espaço Itaú segue diretrizes legais referentes a direitos autorais e de uso de imagem.

– Max e Iggor foram convidados. Respeito a posição deles. Quanto às músicas, lamento essa atitude – diz Otavio Juliano, diretor do documentário, em entrevista a ZH, destacando que seu filme não foi prejudicado pela decisão dos músicos. – Não mudei nada do roteiro final. Tive que cortar a duração das músicas, que são executadas pela formação atual.

Otávio acompanhou o Sepultura ao longo de seis anos, em turnês mundiais, fora dos palcos e em gravações de discos, como o mais recente, Machine Messiah (2017), lançado em janeiro. Um show com a atual formação da banda – Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria) – forma o eixo da narrativa, entrecortada por depoimentos e imagens de arquivo que passam em revista os mais de 30 anos da fulgurante carreira do grupo.

O Sepultura foi criado em 1984, em Belo Horizonte, pelos adolescentes Max (guitarra), Iggor (bateria), Paulo Xisto Jr. (baixo) e Wagner Lamounier (vocal). Após algumas mudanças de configuração, a formação que se tornaria "a clássica" se consolidou em 1987, com a entrada de Kisser, e Max assumindo os vocais. A ascensão do Sepultura no subgênero thrash metal – que tinha como expoentes à época nomes como Metallica e Slayer – foi estrondosa. Após lançar dois álbuns pelo selo nacional Cogumelo Records, seu terceiro disco, Beneath the Remains (1989), foi pela gravadora americana Roadrunner. O sucesso mundial junto a crítica e público foi consolidado com Arise (1991), Chaos A.D. (1993) e Roots (1996).

Entrevistados como Lars Ulrich, do Metallica, Phil Campbell, do Motorhead, e Scott Ian, do Anthrax, destacam no filme o impacto provocado pela sonoridade original que o Sepultura apresentou combinando no peso elementos característicos da música brasileira, em especial os percussivos.

Mas o estresse da vida na estrada, a fama e o dinheiro, segundo conta Kisser no documentário, começaram a minar a "brodagem" que marcava a convivência da banda. Segundo o guitarrista, a empresária deles, casada com Max, procurava colocá-lo à frente dos companheiros, tanto na autoria das músicas quanto nas exigências de camarins e ônibus separados. Max acabou deixando a banda em 1997. Iggor seguiu até 2006, e sua saída também acentuou o desgaste nas relações internas do Sepultura.

Sepultura Endurance destaca, portanto, a história pelo ponto de vista de Kisser e Paulo Xisto Jr., que revisitam locais e pessoas associados aos primeiros passos da banda em Belo Horizonte, falam sobre os sacrifícios que a vida na estrada impôs nas relações familiares, as crises com os Cavalera e a renovação trazida pelo vocalista americano Derrick Green, cuja entrada enfrentou resistência da gravadora e de produtores.

Sem dúvida, Max e Iggor teriam muito a acrescentar com suas versões dos fatos – os depoimentos presentes acabam sendo repetitivos e, por vezes, um tanto laudatórios. Mas a garimpagem que Otávio Juliano faz de mais de 800 horas de material gravado e de 3 mil itens do arquivo pessoal de Kisser é valiosa:

– Eu não tinha nenhuma relação com o Sepultura antes do filme. Procuramos a banda quando eu tinha acabado A Árvore da Música (2010), premiado documentário em longa. Mostrei o filme, eles gostaram e começamos a produção, encerrada depois da gravação do show comemorativo de 30 anos (em 2016). E ainda gravamos o Lars, do Metallica, em 2017.

O diretor afirma que teve atuação "neutra" na produção e que o grupo não teve ingerência no processo de realização:

– Assistiram ao filme pela primeira vez quase terminado. A banda foi generosa e corajosa, abriu as portas. Foi uma experiência gratificante. Ter uma câmera por perto todo esse tempo não é fácil, tanto no estúdio quanto na estrada. Eu tinha um objetivo: fazer um documentário que englobasse o processo criativo, a vida nas extensas turnês, material de arquivo, grandes nomes do metal e material inédito. Queria passar a sensação de estar ali para o público, que as pessoas se sentissem próximas da banda.

Sepultura Endurance
De Otavio Juliano
Documentário, Brasil, 2016, 104min, 12 anos.
Estreia nesta quinta-feira no Espaço Itaú, com sessão às 18h.

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