
Os atores e diretores Dominique Abel e Fiona Gordon se conheceram em Paris no final dos anos 1970 na célebre escola de teatro e mímica do mestre francês Jacques Lecoq (1921 – 1999) e nunca mais se desgrudaram, tanto na arte quanto na vida. Completando 40 anos de parceria nos palcos e nas telas, o belga e a canadense nascida na Austrália voltam a fazer graça com a falta de jeito das pessoas em Perdidos em Paris (2016), encantadora comédia na qual a capital francesa tem a importância de um personagem na história sobre o inusitado encontro de uma turista acidental com um sem-teto folgado.
O casal de clowns divide a cena no filme, um dos melhores títulos deste ano do recente Festival Varilux de Cinema Francês, com Emmanuelle Riva (1927 – 2017), atriz de produções como o clássico Hiroshima Meu Amor (1959) e Amor (2012), em uma das últimas atuações da estrela. Perdidos em Paris é o primeiro longa-metragem dirigido e escrito apenas por Abel & Gordon – como a dupla assina seus trabalhos –, sem a participação de Bruno Romy, que colabora com os comediantes desde a estreia de ambos no cinema com o curta La Poupée (1992).
Leia mais
Filme francês "Frantz" destaca o amor para curar feridas de guerra
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar": franquia renova-se em filme divertido
"Meu Peter Parker é inocente", diz Tom Holland
Na trama de Perdidos em Paris, Fiona interpreta uma bibliotecária de uma pequena cidade canadense que recebe uma carta aflita de sua tia Martha (Emmanuelle), octogenária que vive sozinha na capital francesa. A atrapalhada sobrinha voa então até a França para visitar a idosa, mas lá descobre que ela desapareceu. Em meio a uma sucessão infindável de desastres cômicos, Fiona conhece Dom, um morador de rua egoísta e sedutor que não vai largar do pé enquanto ela tenta encontrar Martha em Paris. Inspirados em mestres do humor físico das comédias mudas como Buster Keaton, Harold Lloyd, Max Linder, Charlie Chaplin e Jacques Tati, os palhaços Dominique Abel e Fiona Gordon lançam mão de seu característico humor gauche, calcado em piadas visuais que praticamente dispensam as falas – e que pode ser conferido também em filmes como o extravagante Rumba (2008), exibido no Festival de Cannes e aplaudido mundo afora, inclusive no Brasil.
Um dos momentos mais adoráveis de Perdidos em Paris é um pas de deux entre Emmanuelle Riva e o célebre ator Pierre Richard: ao som de uma antiga canção de Charles Trenet, a câmera mostra apenas os pés dos veteranos artistas, sentados em um banco de cemitério e dançando uma coreografia galhofeira e absolutamente encantadora.
– Como todos que se surpreenderam ao ver Emmanuelle Riva no nosso filme, jamais pensamos nela. Mas alguém então mostrou um vídeo que ela fez para o New York Times quando foi indicada ao Oscar por Amor. Emmanuelle aparece em seu apartamento fazendo coisas bobas, dançando, sonhando, alimentando os pombos e até mesmo vestindo uma capa de Super-Homem. Descobrimos então que ela tinha um lado de clown. Mandamos o roteiro para Emmanuelle, que gostou da história. Acabamos filmando no próprio apartamento dela. O curioso é que, no começo, o papel de Martha não era muito destacado no filme, era só um pretexto para juntar os dois clowns. Mas, à medida que fomos conhecendo Emmanuelle, o personagem foi crescendo para mostrar mais a maravilhosa personalidade dela – disse Fiona em entrevista a Zero Hora em sua passagem pelo Rio de Janeiro
PERDIDOS EM PARIS
De Dominique Abel e Fiona Gordon.
Comédia, França, 2016, 83min, 12 anos.
Em cartaz no Guion Center e no Espaço Itaú.