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Mineiramente sem pressa, eles demoraram quase 20 anos para enfim registrar em disco a parceria. Gravado ao vivo em agosto de 2015 no Cine Theatro Brasil, remodelado centro cultural em Belo Horizonte, o CD e DVD Samuel Rosa & Lô Borges documenta o encontro de duas expressões da música de Minas Gerais pertencentes a gerações distintas, mas que comungam da mesma fluência no formato da canção. Caçula entre os fundadores do mítico Clube da Esquina – grupo de compositores e músicos mineiros surgido no começo da década de 1960, para o qual contribuiu levando a influência dos Beatles e do rock –, Lô Borges, 64 anos, estendeu a mão para Samuel Rosa, 49 anos, ao gravar o sucesso Te ver no ótimo disco Meu filme (1996).
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– O Skank era uma banda emergente que foi coberta de êxito já no seu primeiro trabalho. Quando eu tomei conhecimento de Calango (de 1994), o segundo disco deles, o Brasil inteiro escutava Skank. Eu estava em uma festa e Calango tocava o tempo todo. Ficava ouvindo o álbum, e toda hora pedia para voltar à faixa Te ver. Gostei tanto da música que fui para um quarto na festa mesmo com o violão e fiz o arranjo. Depois que o disco Meu filme saiu, conheci o Samuel em outra festa, e ele me disse: “Sou seu fã desde criança, meu pai colocava os discos do Clube da Esquina para eu ouvir” – relembra Lô, em entrevista por telefone a Zero Hora.
A partir desse encontro, a dupla passou a fazer shows de forma bissexta, conciliando as brechas das agendas de ambos – as primeiras apresentações foram em 1999, no interior mineiro. Nesse meio tempo, Lô e Samuel compuseram juntos três músicas, presentes no trabalho ao vivo recém-lançado: Dois rios (originalmente gravada no álbum Cosmotron, do Skank), Nenhum segredo e Horizonte vertical (as duas integrantes do disco Horizonte vertical, de Lô).
– Comecei minha carreira compondo com um cara mais velho, de outra estética, que era o Milton Nascimento. É a mesma coisa com o Samuel. Ele disse que considera esse projeto comigo uma espécie de carreira solo – resume Lô.
Samuel Rosa & Lô Borges abre e fecha com dois temas antológicos do Clube da Esquina: Feira moderna e Um girassol da cor do seu cabelo. Outros clássicos da canção mineira compostos por Lô com parceiros de um dos movimentos mais criativos da história da MPB também estão presentes: O trem azul, Clube da Esquina nº 2, Paisagem da janela e Para Lennon & McCartney – esta com a participação de Milton Nascimento. Já a lista de hits do Skank escritos por Samuel presentes no registro inclui Te ver, Resposta, As noites, Sutilmente e Balada do amor inabalável (tendo como convidada a cantora Fernanda Takai, vocalista do grupo Pato Fu).