Gustavo Foster
A carreira de um dos grandes nomes da música brasileira é motivo de homenagem neste sábado, no Opinião: Moraes Moreira, um dos membros fundadores dos Novos Baianos e dono de uma trajetória de quase 50 anos, sobe ao palco para passar a limpo sua história e celebrar seus maiores sucessos com os fãs gaúchos. Na apresentação, o baiano garante que vai passar por todas as suas fases, mas dará ênfase especial ao que talvez seja sua obra-prima: Acabou chorare (1972), disco clássico dos Novos Baianos, será tocado na íntegra, em um dos momentos mais especiais do show.
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Nascido em Ituaço, na Bahia, Moreira começou tocando sanfona em festas de São João. Na adolescência, aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, mudou-se para Salvador, conheceu Tom Zé e entrou em contato com o rock. Mais tarde, ao se tornar amigo de Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, formou os Novos Baianos, grupo do qual fez parte entre 1969 e 1975 – e com o qual agora sai em turnê de reunião, com shows marcados em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro (Porto Alegre, por enquanto, é só uma vontade).
– Quarenta anos depois, o público está totalmente a par desse trabalho, canta comigo todas as músicas – conta Moreira.
Com influências de samba, rock, ritmos regionais e psicodelia, Acabou chorare é considerado um dos álbuns mais influentes da música brasileira – e, por isso, um marco fundamental entre os cerca de 40 discos gravados por Moreira. Em entrevista concedida a ZH, o músico fala sobre sua relação com Porto Alegre, a influência dos Novos Baianos e os planos para a turnê de reunião.
Entrevista
Moraes Moreira, músico
Recentemente, você veio a Porto Alegre com o seu filho, o guitarrista Davi Moreira, que não o acompanha desta vez. Você também está prestes a sair em turnê com os Novos Baianos por Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Como será o show que apresentará em Porto Alegre neste sábado?
É um show solo, sem meu filho ou os outros membros dos Novos Baianos, em que eu faço uma viagem pelo repertório da banda que criei e sou fundador. Vou tocar músicas de todos os nossos discos, desde o primeiro, passando pelo Acabou chorare, pelo Novos baianos F.C.. Vou dar uma panorâmica pelo trabalho e tocar até algumas músicas que a gente não chegou a gravar: uma delas se chama Sugesta geral e outra se chama Três letrinhas. Ah, e vou cantar o repertório do Acabou chorare todo, do início ao fim. Vou também declamar cordéis. Na parte final, entro na minha carreira solo, porque graças a Deus tenho muitos sucessos, que o pessoal de Porto Alegre sempre canta comigo. Pretendo ainda mostrar coisas inéditas, que nunca foram apresentadas no palco. Acabei de compor uma que se chama O samba e a língua, que fala sobre a relação do samba com a língua portuguesa.
A turnê de reunião dos Novos Baianos vai passar pelo Rio Grande do Sul?Estamos com uma miniturnê. Em princípio, são cinco shows, mas eu já vou falar aí em Porto Alegre que não tem nada programado, só que a gente quer ir para aí! Vou ter que assumir o compromisso de que a gente tem que passar por Porto Alegre.
Em tanto tempo de carreira, você criou algum tipo de relação com Porto Alegre?Tem uma história muito interessante. Nos anos 1970, João Gilberto falava muito de Lupicínio Rodrigues, e a gente ficava curioso. Fui conhecê-lo aí em Porto Alegre, no bar Cadeira Vazia, do qual ele era dono. Ele ficava de um terno branco, engomadíssimo, e as mulheres enlouquecidas, gritando “Lupicinio, canta Vingança! Canta Vingança!”. Só que ele tinha um compadre que sabia todas as músicas, então ele dizia para o compadre cantar os pedidos, enquanto ele ficava bebendo e batendo papo com as mulheres do bar. Passei a noite inteira no Cadeira Vazia e não vi o Lupicínio cantar uma nota.
Quase 40 anos depois do primeiro fim dos Novos Baianos, você consegue fazer uma análise da importância da banda para a música brasileira?
É importante. E consigo ver isso pelo público novo, que está totalmente a par desse trabalho, canta comigo todas as músicas. A rapaziada fica querendo saber das histórias, como que a gente vivia, como era a comunidade no sítio (durante a década de 1970, os membros da banda viveram juntos no Cantinho do Vovô, um sítio na zona oeste do Rio de Janeiro que funcionava como uma espécie de comunidade hippie). Os meninos ficam me perguntando essas coisas, alguns dizem que queriam ter nascido na época, para morar no sítio conosco. É divertido. Graças a Deus, esse trabalho tem uma permanência muito grande, e a internet ajudou muito a preservar tudo, com filmes, áudios, registros.