Música

Mùsica

Plebe Rude toca disco clássico na íntegra em show no Opinião, neste sábado

Banda comemora 30 anos do histórico "O concreto já rachou", de 1986

Gustavo Brigatti

Enviar email

Um país de democracia frágil, mergulhado na pobreza e violência e movido pela corrupção. Esse era o Brasil que a Plebe Rude cantou em 1986 no clássico LP O concreto já rachou. Trinta anos depois, a banda de Brasília, que se apresenta no Opinião neste sábado, não vê muita diferença no horizonte.

– As letras da Plebe continuam assustadoramente atuais. Como artistas ficamos felizes com a relevância da obra, mas como cidadão, fico aflito – diz o vocalista Philippe Seabra – Ou éramos videntes ou nada mudou no Brasil...

Completada por André X (baixo), Clemente Nascimento (vocal e guitarra) e Marcelo Capucci (bateria), a Plebe Rude tocará O concreto... na íntegra, além de canções de seus outros álbuns. Por e-mail, Seabra falou um pouco da permanência da música do grupo e o atual cenário musical brasileiro.

ENTREVISTA: PHILIPPE SEABRA
Vocalista da Plebe Rude

A gente não parece mais ter um atrito entre música e política há um bom tempo, mesmo a situação política e econômica do país não tendo melhorado muito...
Na nossa época, era mais "nós contra eles". Agora parece que é todos contra todos, com a população perdendo a mira do verdadeiro inimigo. Nessa era de Facebook, onde todo mundo tem uma opinião, a polarização chegou a níveis tóxicos onde nem mais se consegue ter diálogo. Mas no fundo, se as coisas chegaram onde estão, é justamente por causa da inércia dessas pessoas que esperaram uma plataforma como o Facebook para ter algum nível de engajamento – se é que se pode chamar visões absolutistas e rasas de engajamento. E sim, me refiro também a classe artística. Onde estavam essas pessoas, especialmente nossos "colegas" que encontraram uma tão necessária sobrevida na internet através da polêmica, esses últimos 30 anos?

A música Minha renda, do LP O concreto já rachou, meio que antecipou essa coisa da ostentação no meio musical, não?
Minha renda surgiu como resposta nosso a indústria do rock que estava surgindo. Finalmente alguém que tinha passado adolescência em Brasília conseguiu gravar um disco, os Paralamas, apesar de ser genuinamente uma banda carioca. Mas ao ouvir o disco tinha pérolas como "minha prima já está lá e por isso também vou". O que? Estávamos apanhando da polícia em Brasília, mandando musicas para a censura e é isso que eles gravam? Plebe e legião, bem no começo já estavam despontando atenção então fica fácil compreender a nossa raiva ao ouvir "que papo careta, estou tirando chinfra com a minha lambreta..." Para os autores de musicas como Proteção, Até Quando e Que país é esse?, era mais constrangedor do que transgressor.

Sobre cenário musical, como você localiza a Plebe hoje em dia? Onde ela está inserida?
Para quem viu o documentário Rock Brasília, lançado há três anos, tem um trecho onde falo da dificuldade que via da Plebe se reinserir no "mercado" quando voltei ao Brasil em 2000. Depois de seis anos no exterior, voltei e fiquei estarrecido ao ver os Titãs fazendo playback num programa que tinha um papagaio falante... Papagaio falante? Pensei "vai muito difícil levar a Plebe adiante quando é isso que se tem que fazer para ter carreira..." Sempre nos recusamos fazer essas coisas, e é claro que a banda sofreu por isso. Mas estamos ainda na ativa e continuamos a se recusar a fazer essas coisas. A resiliência da Plebe é um exemplo que vale a pena ter princípios nesse país.

Plebe Rude
Sábado, às 20h. Classificação: 14 anos.
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834).
Abertura da casa: 18h30min
Ingressos: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada) e R$ 40 (promocional com a doação de um 1kg de alimento não perecível ou agasalho)

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Estúdio Gaúcha

22:00 - 00:00