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Durante quase três horas, na noite desta terça-feira (8), o trio de fundadores do Guns N' Roses trabalhou no Beira-Rio, em Porto Alegre, o show que vem apresentando pelo mundo desde que selou um acordo de paz e reformou a banda para a turnê de reunião Not in this lifetime. O set list seguiu quase sem alterações: abriram com It's so easy e fecharam com Paradise City, usando como recheio outros hits igualmente famosos, algumas covers e canções do álbum que Axl gravou com outros músicos, Chinese democracy.
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O guarda-roupas também era o mesmo, com Axl de jeans rasgado e camisetas diversas acompanhado por blusa xadrez amarrada na cintura; Slash de couro e colete; e Duff de regata. O palco, do tamanho de um pequeno edifício, ostentava dois telões laterais e explodia em fogos de quando em quando. A movimentação também seguiu o script de Axl correndo de um lado para outro e subindo nas caixas de retorno, enquanto Slash e Duff se revezam na passarela atrás da bateria e nas laterais. Tudo dentro do previsto. Tudo como o programado. Tudo calculado e seguro. Exatamente o oposto de um show quando o Guns N' Roses fez sua fama.
No seu auge, o Guns N' Roses era considerada a banda mais perigosa do mundo. Não só pela música violenta e postura beligerante e autodestrutiva de seus integrantes, mas também pelos shows catárticos, algo selvagens. O que Axl, Slash e Duff apresentaram em Porto Alegre foi, se muito, um simulacro dessa época. Uma farsa bem ensaiada, tecnicamente perfeita, feita sob medida para agradar os corações saudosistas.
Até aí nenhum problema. O rock repete-se como farsa há muito tempo, em inúmeras bandas que rodam o mundo em intermináveis turnês de reunião. O problema é que o público pareceu sentir esse clima de gravação de DVD. Boa parte das quase 50 mil pessoas que lotaram o Beira-Rio manteve-se apática, como que esperando algo acontecer. A centelha que as tiraria da indiferença brilhou em Sweet Child O'Mine, Knockin' on heaven's door e Don't cry. Nas outras 23 canções do set list, as reações se resumiram a aplausos e acendimento de lanterna de celulares. A banda também sentiu: antes da primeira metade do show, Axl perguntou se o público ainda estava lá.
Veja as fotos do show:
Mas como ser diferente em 2016? Axl, Slash e Duff são remanescentes de uma época em que a reputação de uma banda era construída sobre os escombros dos quartos de hotéis que destruía pelo mundo. Hoje, Axl tira fotos no café da manhã com os fãs; Duff e Slash estão sóbrios e exibem tatuagens de seus outros projetos musicais, sinais inequívocos de que nunca pararam no tempo.
Logo, tudo o que podem fazer é entregar uma simulação bem embalada do seu passado de glórias. E o fazem com garra, suando litros embaixo dos pesados holofotes, tocando e cantando quase sem descanso. No frigir dos ovos, é o mais perto que dá pra chegar de reviver a época de ouro do Guns N' Roses.