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Tempos atrás, Rodrigo Prates foi chamado para dar aula de música em uma escolinha infantil de Tramandaí. Mesmo reticente, aceitou o convite. Para surpreender a gurizada, decorou seu violão com giz de cera para transformá-lo em um chocalho. Chegando na sala de aula, a turma que o surpreendeu, transformando o violão em uma prancha de surfe.
A criatividade infantil impressionou o compositor e bacharel em Letras – que até então só tinha tido contato com crianças através do filho pequeno. Foi pensando nas experiências com o primogênito, aliás, que ele compôs as canções para apresentar na escolinha. Nas letras, todo um cotidiano de troca de fraldas, alimentação, mamadeiras e chupetas.
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– Uma das primeiras músicas que fiz foi sobre um lugar para onde os bicos vão quando as crianças não querem mais eles – relembra. – Daí, fui criando outras músicas e, quando notei, já tinha uma linguagem própria e repertório para um show.
Músico autodidata e leitor voraz desde pequeno, Rodrigo começou a desenvolver também um forte senso crítico em relação ao que era oferecido para o público infantil. Pensou que podia fazer diferença escrevendo músicas que fugiam do tatibitate corriqueiro. Com seu violão/chocalho/prancha de surfe, fundou o Zuando Som, projeto de música e literatura voltado para crianças que está completando 15 anos.
Das escolas do Litoral, Rodrigo espalhou o Zuando Som para feiras literárias e escreveu músicas para dois livros: O Velho dos Cabelos de Mola e Eta Bicharada Gulosa – o primeiro, indicado ao Prêmio Açorianos de melhor disco infantil de 2012. No ano seguinte, lançou o primeiro disco, Fé e Pé. Também indicado ao Açorianos, apresenta cinco músicas com arranjos de jazz e folk que viram do avesso o imaginário infanto-juvenil – como Medo de Princesa ("Se te contaram que o lobo pega / E que as bruxas são más / Que tipo de história você anda lendo? / Não andam te contando história direito"). Para se apresentar, nada além de óculos estilosos e um chapéu – personagem que adotou como símbolo do projeto.
Nesse meio tempo, encontrou a produtora Paula Cardoso, que virou o segundo pilar de sustentação do Zuando Som. Com ela, criou um núcleo em São Paulo, onde se apresentou na Capital e no Interior em escolas, feiras literárias, livrarias e no Museu da Imagem e do Som. A boa repercussão levou o projeto a excursionar pelo Nordeste e pela Flipinha (evento paralelo voltado para a produção infantil da Flip).
– Nessa época, montamos um show de Carnaval para ser apresentado no Sesc que deu tão certo que acabamos por firmar uma parceria com eles – comenta Rodrigo. – Em março, vamos rodar 16 cidades do Rio Grande do Sul dentro do projeto Mais Leitura do Sesc.
Em 2017, livro e disco serão lançados
Rodrigo conta que até maio sai mais um livro, Um Alfabeto Diferente, seguido de outro disco, Zuando em Família. Produzido por Marcelo Fruet, o álbum tratará de temáticas que extrapolam ainda mais o universo infantil – mas sem deixar de fazer parte do mundo do seu público alvo, como discussão de gênero e adoção.
– Pode parecer difícil, mas falar sobre esses assuntos para crianças é muito fácil, porque elas não são caretas. Nós, adultos, é que somos.