Ninguém garante que vai ter outro, tampouco pode assegurar que não vai. Certo é que o primeiro show do DeFalla com sua formação clássica em mais de 20 anos é oportunidade rara para se conferir ao vivo uma das bandas mais inventivas que já brotaram no claudicante pop nacional.
Oreencontro de Edu K, Castor Daudt, Flávio "Flu" Santos e Biba Meira, hoje à noite, no Beco, na Capital, é, além de histórico, simbólico: eles vão tocar na íntegra o primeiro disco do grupo, lançado em 1987 e ainda hoje reverenciado como exemplo de vigor e originalidade. Essa volta do DeFalla, ensaiada desde o final de 2010, foi agora consolidada a convite do projeto musical Discografia do Rock Gaúcho, da Olelê Music, que presta tributo a álbuns marcantes da cena sulista.
Assista a um clipe especial da música "Sodomia" (1987), com imagens de ensaios para o show desta quinta:
O DeFalla despontou como um trio - Edu, Biba e Carlo Pianta - no começo dos anos 1980. Carlo saiu pouco antes da gravação do primeiro disco, no estúdio da RCA, em São Paulo, e Castor (guitarra) e Flu (baixo) juntaram-se a Edu (voz) e Biba (bateria). Com o produtor Reinaldo Barriga Brito, fizeram do estúdio uma grande zona de experimentação.
- Era o estúdio onde os Mutantes também tinham gravado - lembra Edu, hoje com 42 anos. - O Barriga vinha dos anos 1970, era um doidão que encontrou quatro doidões como ele dispostos a experimentar. Ficamos um mês lá criando, viajando, colocando microfone no banheiro, fazendo samplers, colagens. Melô do Rust James foi composta no estúdio.
O caldo sonoro do DeFalla misturava rock, rap, funk e psicodelia. A banda parecia antecipar tendências em plena sintonia com os ventos que sopravam dos EUA e da Inglaterra. Mas Edu costuma minimizar a percepção de quem via DeFalla como banda à frente de seu tempo. Argumenta que era uma impressão decorrente de tempos pré-internet, quando tudo que envolvia a cultura pop chegava com atraso ao Brasil.
- Para nós era natural. Não se pensava estar fazendo algo que ninguém fazia.
As 14 faixas do disco ilustram a diversidade. Canções como Sodomia e Alguma Coisa representam o som mais cru da fase power trio; a bateria de Ideias Primais lembra o Joy Division; Não me Mande Flores foi hit radiofônico; Sobre Amanhã comprova o talento melódico de Castor - aliás, Candy, que Iggy Pop lançaria três anos depois, tem introdução parecida.
Com essa formação, o DeFalla lançou só mais um disco, em 1988. Biba deixou as baquetas, Castor foi para a bateria, e guitarristas convidados marcaram presença nas muitas e diferentes formações da banda nas décadas seguintes, inclusive um período sem Edu. A cada novo disco uma surpresa: heavy metal, funk pancadão (a fase Popuzuda), eletrônico-industrial...

Na época do disco. Foto: Arquivo pessoal

E agora. Foto: Tadeu Vilani
Apesar de o DeFalla passar por períodos de hibernação, Edu diz que a banda nunca acabou. Só é complicado "acordá-la" diante das circunstâncias, como ele estar à frente de diferentes projetos musicais entre São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre (também é produtor e DJ), e Castor viver em Maceió. E se o DeFalla levasse adiante esse encontro, como soaria?
- Tocar essas canções outra vez com eles está sendo demais, mágico, exatamente como era antes - responde Edu. - A diferença é que não tenho mais 17 anos. Não sei se seria por aí, mas tem rolado algo soul-funk pesadão, psicodélico, tipo Sly and the Family Stone.
Nesta quinta, às 23h, com show extra à 1h30min.
BECO (Avenida Independência, 936, Porto Alegre). Fone (51) 3023-7883.
Onde estacionar: estacionamento pago nas imediações.
O show: o DeFalla, com a formação que gravou o homônimo primeiro disco da banda, em 1987, toca o álbum na íntegra, dentro do projeto Discogafia do Rock Gaúcho.
Ingressos: R$ 25 para quem colocar o nome na lista disponível no site do Beco (www.beco203.com.br). Na hora, o valor na bilheteria é de R$ 30.
Set list do show
Ferida; O que é Isso; Sodomia; Papaparty; Grampo; Não me Mande Flores; Ideias Primais; Sobre Amanhã; Alguma Coisa; Melô do Rust James; Jo Jo; Im an Universe;Tinha um Guarda na Porta; TrashMan; Gandaia.
Confira opinião ilustres sobre o DeFalla na edição desta quinta de Zero Hora: John Ulhoa (Pato Fu), Fred 04 (Mundo Livre) e Dengue (Nação Zumbi) contam como a banda influenciou seu trabalho.