Fábio Prikladnicki
Começa assim: Sacha, um homem do interior da Rússia, é condenado por matar sua mulher para ficar com a amante, que também atende por Sacha. Ele não tem remorso. Como dois pulmões, Sacha e Sacha não podem ficar separados.
A história da peça que será apresentada apenas nesta sexta-feira (11/05), às 21h, no Teatro Renascença, na Capital, é encenada por dois atores - Patrícia Kamis e Rodrigo Bolzan - que talvez interpretem os personagens e talvez apenas narrem a história. Esse jogo de incerteza sobre os papéis explica, pelo menos em parte, o interessante trabalho da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, sobre o texto (inédito no Brasil) do dramaturgo russo contemporâneo Ivan Viripaev. O espetáculo está na programação do 7º Festival Palco Giratório Sesc/POA.
Dividida em cenas baseadas nos mandamentos bíblicos, a peça trata de temas complexos (relacionamentos, ética, política, religião, o destino da humanidade e por aí vai) com sarcasmo, mas sem cinismo. Aos mandamentos correspondem dez composições: em diversos trechos, o casal de atores se junta a um músico (Miro Dottori, no caso da sessão na Capital) para formar uma banda - uma sacada do grupo que não está no texto original. A banda se desfaz, e o diálogo continua. As performances de Patrícia e Bolzan são um verdadeiro embate de ideias.
- O trabalho que venho buscando nos últimos anos tem a ver com a expansão de sentidos. As peças, em geral, são polissêmicas - diz, por telefone, Marcio Abreu, diretor do espetáculo. - O campo da arte é também o daquilo que não conhecemos na vida ordinária. Não é absolutamente o campo da reprodução da realidade.
Com 13 anos de atividade, a Companhia Brasileira de Teatro é hoje uma das mais destacadas do país por sua pesquisa de linguagem. O público gaúcho, no entanto, não teve muitas oportunidades de assistir a suas produções, mesmo que a sede do grupo seja no Estado vizinho do Paraná. Foi lá que Oxigênio estreou, em dezembro de 2010. O título - repleto de possibilidades de leitura - evoca o que é indispensável, essencial na vida. Não há, como se pode imaginar, uma resposta única.
- Vivemos em um mundo utilitarista. As coisas são valorizadas na medida em que servem para algo no sentido imediatista. Não penso a arte dessa maneira. É evidente que uma peça tem a possibilidade de instaurar alguma coisa, de marcar um lugar no mundo, de tocar as pessoas de alguma maneira. Mas a arte é uma contracorrente a esse pensamento utilitarista - defende o diretor.
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