
Premiado nas últimas edições dos festivais de Brasília e É Tudo Verdade, o curta A Cidade (2012), de Liliana Sulzbach, entra em cartaz nesta sexta-feira no Cine Santander Cultural.
O filme será exibido junto com o longa O Cárcere e a Rua (2004), um dos títulos mais representativos da cinematografia gaúcha recente - e da própria diretora, rara cineasta local com carreira consolidada a partir de trabalhos documentais.
A Cidade é surpreendente e revela a maturidade de Liliana na manipulação da linguagem do documentário. Começa com imagens bonitas de um lugar estranhamente povoado apenas por velhos, que são apresentados em sua rotina - tomando café, alimentando animais, jogando bocha. Depois de algumas pistas sutis, sobretudo em planos fechados nos corpos e em suas cicatrizes, é que fica claro se tratar de Itapuã.
Antiga colônia de isolamento das proximidades de Viamão, a cidade do título é o que restou de um leprosário fundado em 1940, para onde foram levados mais de 1,4 mil doentes oriundos de diversas regiões do Estado. Hoje há 35 pessoas no lugar, todas com mais de 60 anos e pouca - ou nenhuma - vontade de falar sobre o seu passado.
Ao evidenciar suas intenções, Liliana faz o espectador reinterpretar aquilo que vira antes. O jogo é proposto a partir da apresentação de novos flagrantes de seu dia a dia e também da revisão de cenas apresentadas anteriormente, agora repletas de novos significados. Ao mesmo tempo em que reflete sobre o poder da imagem, a cineasta chama a atenção para a construção da memória - que pode encontrar seu valor nos pequenos gestos e no cotidiano mais ordinário.
A Cidade e O Cárcere e a Rua ficam em cartaz em três sessões diárias até quinta-feira da semana que vem. Nesta sexta-feira, às 19h, a diretora estará presente para conversar com o público após as exibições.
A Cidade (Brasil, 2012, 25min)
Distante de outros centros urbanos, Itapuã (RS) é uma comunidade com hábitos bem característicos. A localidade, que já abrigou 1454 pessoas durante mais de 70 anos de existência, conta com apenas 35 moradores, todos acima de 60 anos. Ninguém gosta de lembrar o que o lugar foi no passado, mesmo que para muitos a lembrança inscreva-se no próprio corpo. Direção: Liliana Sulzbach. CIassificação etária: Livre. Prêmios: menção honrosa, Troféu ADB e prêmio da crítica/Abraccine no Festival É Tudo Verdade, eleito um dos 10 melhores filmes da Mostra Kinoforum e melhor direção, som e fotografia para curtas documentários no Festival de Brasília.
O Cárcere e a Rua (Brasil, 2004, 80min)
Cláudia, presidiária mais antiga e respeitada da Penitenciária Madre Pelletier, deve deixar o cárcere em breve. Assim como Betânia, que vai para o regime semi-aberto, e ao contrário de Daniela, que recém chegou na prisão e aguarda julgamento. Enquanto Daniela busca proteção na cadeia, Cláudia e Betânia vão enfrentar as incertezas de quem volta pra rua. Direção: Liliana Sulzbach. CIassificação etária: 12 anos. Prêmios: melhor documentário no Festival de Gramado, no Fórum Doc.BH, no Festival El Ojo Cojo (Espanha), no IMARgens (Cabo Verde) e melhor longa-metragem-Troféu José Lewgoy.