Fábio Prikladnicki
Bez Batti diz que trabalha de domingo a domingo, de sol a sol. Se dorme três horas por noite, é muito. Ocupa-se de forma exclusiva com esculturas, que vende principalmente para colecionadores de São Paulo. No tempo livre, relaxa desenhando projetos de novas obras ou criando objetos para a decoração de sua casa, nos Caminhos de Pedra, a poucos minutos de carro do centro de Bento Gonçalves. Poucos conhecem como ele as propriedades e cores dos diferentes tipos de basalto. E menos ainda têm a técnica que ele desenvolve, pacientemente, há 45 anos, para dominar a pedra.
- Aquelas ferramentas grandes que eles utilizam não servem para o tipo de trabalho que realizo - compara, referindo-se aos participantes do 1º Simpósio Internacional de Escultores.
> Evento reúne escultores de 10 países em Bento Gonçalves
Em 1998, Bez Batti participou de um evento nesse molde em Lima, no Peru, e sugeriu a realização de um similar na serra gaúcha. O escultor se tornou o anfitrião e indicou duas pedreiras da região, onde os 10 participantes buscaram blocos de cerca de um metro cúbico de basalto.
- Os gregos trabalharam o mármore, e as obras que restaram estão em pedaços, sem braços. O basalto é indestrutível. Os egípcios usaram o basalto preto - explica.
Bez Batti se envolve pouco com a vida cotidiana. Virou folclore o fato de não ter sequer conta bancária. E não acumula funções. Sua opinião a respeito do ofício do artista é irredutível:
- Se o cara tem uma atividade paralela, eu não acredito na obra dele.
Até a cadela Guadalupe, guardiã da casa, é aficionada por basalto. Sua brincadeira preferida é buscar lascas. No caminho para o ateliê, que fica do lado de fora da casa, Bez Batti arremessa um pedaço para longe. Guadalupe sai em disparada.
O ambiente de trabalho é ao ar livre, em meio à vegetação. As obras em processo de elaboração ficam espalhadas como se estivessem em uma exposição a céu aberto. Para criá-las, o artista conta com um jovem ajudante, a quem cabe o demorado processo de polimento. Bez Batti tira de um pote uma, duas, várias lixas de diferentes tipos que devem ser aplicadas em ordem. Esse é um dos segredos para obter o efeito lustroso das máscaras, figuras e abstrações que dão forma a suas esculturas.
O artista pega um pedaço de pedra ainda não trabalhada e molha em uma torneira.
- A água revela a cor - explica, indicando as nuanças em diferentes tons que agora aparecem com nitidez.
É dessa ciência que vive Bez Batti. Lamenta que, em tempos de crise, teve de se desfazer de obras que gostaria de ter mantido. No dia 11 de novembro, completará 72 anos e diz que tem material para criar "pelos próximos 90 anos". Reencontra, a cada nova pedra, o garoto criado nas margens do Rio Taquari que colecionava seixos. A escultura era apenas uma questão de tempo.
- Se eu não fizer isso, eu morro.
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