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Humanos meio bichos, animais se equilibrando sobre outros animais. Seres híbridos, camuflados, tentando se encaixar.
Não há sensação de conforto diante dos trabalhos de Nara Amelia, mas uma aflição despertada por personagens impossíveis em situações fantásticas.
Com inauguração nesta terça-feira, às 19h, e abertura ao público a partir desta quarta-feira, no Santander Cultural, O Mundo É uma Fábula é a última exposição do projeto RS Contemporâneo 2012, que, ao longo do ano, apresentou jovens artistas destacados pelo êxito já alcançado em suas breves trajetórias. Depois de Rochele Zandavalli e Rafael Pagatini, agora é a vez de Nara Amelia, 30 anos. Nascida em Três Passos e atualmente doutoranda em Artes Visuais pela UFRGS, ela ganha uma mostra que apresenta sua apurada técnica na gravura em metal.
>>FOTOS: veja algumas das gravuras em metal de Nara Amelia
Nara já é uma artista premiada, tendo realizado mostras individuais e coletivas pelo país. Desde o começo dos anos 2000, vem desenvolvendo um trabalho coerente e singular a partir da gravura em metal, arte ou técnica de imprimir imagens sobre papel a partir de desenhos criados com incisões e corrosões em uma superfície metálica. Ao adotar uma técnica de tradição na arte gaúcha, usa ácidos e instrumentos para desenhar nas chapas de impressão de imagens. Mas, por meio desse processo agressivo e braçal, mescla outros recursos em obras de imensa delicadeza, minúcia e sofisticação:
- Não é mais só gravura, porque uso também aquarela e ainda faço trabalhos com bordados e desenho. Um fator determinante do processo é a montagem de todos esses elementos. A gravura é meu principal meio de obter imagens, só que eu vou acrescentando elementos para criar esse universo que venho desenvolvendo - explica.
Ao mesmo tempo em que apresenta uma refinada técnica, Nara chama atenção pelos ambientes fantásticos habitados por seus personagens híbridos. Criando narrativas permeadas por uma constante sensação de desassossego, lança um olhar sobre a cultura e as relações sociais.
O curador Orlando Maneschy comenta que Nara traz algo que ultrapassa a sofisticação técnica, com uma ironia fina:
- O trabalho dela provoca o espectador a olhar para aqueles animais meio tortos, meio quebrados, tentando se encaixar na pele de outros em que não se encaixam. São seres híbridos meio impossíveis. Ela tem um olhar atento para as relações humanas, para a sociedade, para essa trama social que se estabelece nos jogos de poder e de valor. Usa esses seres como metáfora para pensar esse mundo louco em que a gente vive.
Com suas composições de caráter fabular, Nara opera em um universo íntimo e singular:
- Não trato necessariamente de coisas concretas nem de temas sociais. Penso mais naquelas coisas que são difíceis de dizer. São meios de pensar o homem, com o animal como alegoria do que é humano. A fábula é uma forma de ficção ou uma forma poética para pensar coisas que são relativas ao homem, ao mundo. Uso personagens fictícios, o fantástico e a poesia para expressar coisas que são da nossa realidade.
O Mundo É uma Fábula
Abertura terça-feira, 19h. Visitação a partir de quarta: de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 13h às 19h. Em cartaz até 6 de janeiro. Entrada franca.
Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028), em Porto Alegre, fone (51) 3287-5500.
A exposição: apresenta cerca de 30 trabalhos da artista Nara Amelia, com destaque para gravuras em metal com uso de técnicas como aquarela e bordado. Curadoria de Orlando Maneschy.