Descendo um poço que parecia não ter fim, o mercado mundial da música cresceu 0,3% em 2012. Embora pequeno, é o primeiro aumento desde 1999. A maior parte do lucro veio do comércio digital, que avançou 9% em relação a 2011. Ao lado de outras modalidades de consumo online, o crescimento foi impulsionado pelo streaming, um serviço que não é novo, mas que deve se espraiar pelo Brasil.
Os números da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) indicam que o apreço da indústria pelo streaming é óbvio: além de não oferecer o download definitivo da música (o que dificulta a pirataria), cobra do usuário uma assinatura para ter acesso ilimitado a um catálogo decente. E as gravadoras faturam com os direitos autorais pela execução das músicas.
Segundo dados da IFPI, os serviços de streaming saltaram de 23 para 100 mercados nos últimos dois anos, enquanto o número de assinaturas teve aumento de 44%, totalizando 20 milhões de usuários no mundo. O filão é tão atrativo que YouTube, Apple e Amazon já se preparam suas versões.
No Brasil, segundo relatório da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), o comércio da música digital cresceu 83% e passou a representar mais de 28% do total do mercado. Entretanto, o streaming teve queda de 18,6%. Por isso, o país é apontado pela IFPI como um mercado com potencial a ser explorado.
O país contava com apenas dois grandes serviços de streaming, o Sonora e o Rdio. Desde janeiro, a oferta aumentou com a francesa Deezer, que deverá ser seguida, no primeiro semestre, pela Superplayer e pela Spotify.
- O Brasil é apaixonado por música e está em franco crescimento econômico - analisa Mathieu Le Roux, diretor da Deezer para a América Latina.
Há também quem aposte na relação custo/benefício como um dos fatores que atrairão os brasileiros.
- Nosso público-alvo são pessoas que apreciam boa música, mas não têm tempo, nem paciência para pesquisar novas tendências e criar suas próprias seleções musicais - opina Gustavo Goldschmidt, CEO da 3BR Tech, empresa dona do Superplayer.
Mas há obstáculos para o streaming, como a precariedade da internet móvel, comprovada pela quarta colocação do Brasil na América do Sul, de acordo com estudo da Akami. A falta de uma conexão de boa qualidade compromete um dos atrativos do serviço: a audição via smartphones.
- Pagar para ter um serviço de streaming somente no computador de casa ou do trabalho não faz sentido. Para isso, tem o YouTube e de graça - aponta Ticiano Paludo, professor da Faculdade de Comunicação da PUCRS.
A saída encontrada pela Deezer foi permitir o download de músicas para serem utilizadas, em modo offline, diretamente no aplicativo do serviço. O "jeitinho" contraria o princípio do streaming - de não-armazenamento de dados -, mas viabiliza o serviço enquanto uma internet móvel de qualidade não chega. Dela, pode depender o futuro do streaming no Brasil.
E no país?