
Grande atração internacional do 8º Festival Palco Giratório Sesc-POA, a performance Os Bárbaros - Extreme Fashion Show será apresentada segunda e terça-feira no Teatro do Museu do Trabalho. É um trabalho do grupo La Pocha Nostra, liderado pelo mexicano Guillermo Gómez-Peña, que tem como colaboradores o americano Roberto Sifuentes e a italiana Dani dEmilia, que viveu no Brasil.
Zero Hora - Vocês podem explicar como funciona o grupo La Pocha Nostra?
Guillermo Gómez-Peña - Somos uma trupe global que é antiglobal, uma trupe transnacional muito politizada que reúne artistas de várias disciplinas e países. Viemos para Porto Alegre em três pessoas. No total, os membros principais são sete, distribuídos em quatro países: México, Estados Unidos, Canadá e Portugal. Temos um projeto de longo prazo com o Brasil. Nos interessa muito o que está acontecendo culturalmente no país e, por isso, estamos totalmente comprometidos a retornar a cada ano. Como parte de nossa prática política, incorporamos artistas locais nos grandes projetos que realizamos porque nos interessa gerar esse diálogo horizontal, transnacional, entre Brasil, o norte das Américas, a Europa e outros países latino-americanos. Em Porto Alegre, serão 24 artistas convidados e três "pochos" (integrantes do grupo). A maioria deles são de Porto Alegre, embora alguns venham de outras partes do Brasil e uns poucos sejam de outros países.
ZH - Como vocês se definem?
Gómez-Peña - Somos, primeiramente, detetives culturais. Começamos a investigar, em um país determinado, quais os temas que preocupam as pessoas. Falamos com intelectuais, artistas e estudantes sobre suas principais questões. Chegamos a uma lista que inclui a crise da identidade nacional, a desbrazilização do Brasil por obra e graça de uma globalização descarrilada...
Dani dEmilia - Também a ascensão de uma direita muito exagerada e conservadora e o papel dos meios de comunicação na formação da identidade do que se vê externamente do Brasil, ou seja, a diferença da visão externa e interna do Brasil.
Roberto Sifuentes - Há um aspecto pedagógico em nosso trabalho. Não viemos apenas para produzir um espetáculo, mas para gerar uma conversa sobre esses assuntos, uma conversa por meio da performance. Queremos usar a performance e o corpo como um modo do artista se engajar no discurso político.
ZH - Vivemos no tempo da mídia de massa. A performance, pelo contrário, é para poucas pessoas. Qual é sua eficácia política?
Gómez-Peña - É uma pergunta muito pertinente. Acreditamos que não são tão poucas pessoas. Ao longo do ano, levamos a cabo de 20 a 30 projetos em vários países. Estamos cultivando uma geração de jovens artistas, ajudando-os a afiar suas ferramentas conceituais, suas linguagens artísticas, estimulando-os a se conectar com artistas de outros países e a criar colaborações interculturais em um momento em que todos os países vivem um isolamento, um ostracismo político. Se observamos em perspectiva, o trabalho que realizamos ao longo de um ano afeta muitas pessoas em diferentes países. Cada uma das pessoas que participam dos processos criativos está trabalhando em suas próprias comunidades ativistas, acadêmicas e artísticas, também comprometidas com mudanças políticas.
Sifuentes - Não compartilhamos apenas a performance, mas o modo de trabalhar, a linguagem do trabalho em conjunto. Estamos espalhando uma metodologia do ativismo que esses 24 participantes levam para suas próprias práticas.
Gómez-Peña - O artista contemporâneo, jovem, não vê a performance apenas como algo que se faz ao vivo, como a obra final. Esses artistas estão continuamente fazendo obras para YouTube, Facebook, Twitter. Fazem trabalhos para as ruas, para museus e teatros. Se observamos essa multicontextualidade em que está operando o artista contemporâneo, multiplicam-se geometricamente os públicos.
ZH - Qual é o público-alvo do La Pocha Nostra?
Sifuentes - É importante lembrar que não estamos trabalhando necessariamente para uma alta estética. Existimos na alta e na baixa cultura, simultaneamente. A internet e a mídia digital é precisamente essa estética populista que precisamos ocupar. Populista no sentido de que é acessível. Não estamos falando exclusivamente com uma audiência da alta cultura ou de um público acadêmico.
Gómez-Peña - É altamente experimental e muito acessível ao mesmo tempo, o que é singular no grupo. Nossa linguagem artística é estranha, mas ao mesmo tempo popular e acessível. É muito sexy, engraçada, tem alta energia, rocknroll, é participativa. O público adora os espetáculos do La Pocha Nostra, mas, ao mesmo tempo, lidamos com uma estética estranha e com ideias complexas.