Fábio Prikladnicki
Que força motriz é mais revolucionária na transformação do mundo: o comunismo ou o rock?
Em poucos textos o embate de ideias é tão revelador da natureza dos personagens quanto em Rocknroll, de Tom Stoppard, que estreia amanhã no Theatro são Pedro na montagem intitulada Marxismo, Ideologia e Rocknroll.
> Veja a lista comentada de músicas citadas na peça
Inglês nascido na antiga Checoslováquia, Stoppard é mais conhecido do público brasileiro pelos filmes que roteirizou, como Brazil - O Filme (1985), ao lado de Terry Gilliam e Charles McKeown; Shakespeare Apaixonado (1998), com Marc Norman; e Anna Karenina (2012). Paralelamente à carreira no cinema, no entanto, tornou-se um dos dramaturgos mais prestigiados no cenário internacional. Em 2011, a editora Companhia das Letras publicou, no Brasil, a coletânea Rocknroll e Outras Peças.
Herdeiro de Beckett, Stoppard cria trabalhos em que frequentemente parodia a história e a arte. Em Rosencrantz e Guildenstern Morreram, reescreve Hamlet a partir do ponto de vista de dois personagens secundários do texto. Já Rocknroll é uma de suas peças mais autobiográficas. O personagem Jan é uma espécie de alter ego do dramaturgo caso ele tivesse voltado da Inglaterra para a Checoslováquia natal em meio à turbulência do final dos anos 1960. Entusiasta do rock como força transformadora, Jan tem como contraponto o professor Max, defensor do comunismo.
Entre Cambridge e Praga, em um período que vai do fim dos anos 1960 ao início da década de 1990, a trama contrapõe personagens e, acima de tudo, ideias. Não foi por acaso que os diretores Luciano Alabarse e Margarida Leoni Peixoto decidiram sublinhar esse último aspecto ao intitular sua montagem Marxismo, Ideologia e Rocknroll.
O contexto em que a história se passa foi preservado, mas as músicas que Stoppard sugere que sejam tocadas entre as cenas foram alteradas. Com o auxílio do músico e jornalista Arthur de Faria, Alabarse e Margarida inseriram canções de Caetano Veloso do período em que estava exilado. Ao lado dessas, estão faixas de Pink Floyd, Velvet Underground, Rolling Stones e John Lennon, todas executadas ao vivo. Algumas são tocadas em versão instrumental; outras são cantadas pelo elenco.
- O trabalho de um diretor é não se atemorizar com a grandeza de um dramaturgo. Todas as músicas que escolhemos foram compostas nos períodos em que se passa a peça - comenta Alabarse.
Margarida acrescenta:
- Tem a ver com a universalidade do tema. No Brasil, ocorria o inverso da situação da Checoslováquia. Aqui, os comunistas eram perseguidos.
O elenco reúne 11 pessoas, a maioria das quais interpreta mais de um personagem. A curiosidade é que alguns dos atores se revezam na representação dos antípodas Max e Jan em diferentes fases da vida. Marcelo Adams é Max quando jovem e Jan quando adulto. Carlos Cunha Filho é Max adulto. E Gustavo Susin é Jan jovem (e Steve). Arthur de Faria flana pelo cenário executando a trilha, como um fantasma de Syd Barrett, o lendário integrante do Pink Floyd.
MARXISMO, IDEOLOGIA E ROCK'N'ROLL
> Adaptação da peça Rock'n'roll, de Tom Stoppard, com direção de Luciano Alabarse e Margarida Leoni Peixoto.
> Com Marcelo Adams, Carlos Cunha Filho, Áurea Baptista, Gustavo Susin, Lisiane Medeiros, Pingo Alabarce, Luísa Herter, Clóvis Massa, Marcello Crawshaw, Mauro Soares e Arthur de Faria.
> Desta quinta-feira (6/6) a sábado (8/6), às 21h. Domingo (9/6), às 18h. Duração: 1 hora e 40 minutos. Classificação: livre.
> Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone: (51) 3227-5100.
> Onde estacionar: estacionamento do Theatro São Pedro: R$ 15 (240 vagas).
> Ingressos: R$ 20 (galerias), R$ 30 (camarote lateral), R$ 40 (camarote central) e R$ 60 (plateia). À venda na bilheteria do Theatro São Pedro (de hoje a sexta, das 13h às 21h; sábado, das 15h às 21h, e domingo, das 15h às 18h). Desconto de 50% para titular do Clube do Assinante nos primeiros cem ingressos e de 20% nos demais.