
A obra de um dos artistas da 9ª Bienal do Mercosul nem a este mundo pertence. Vem de outro planeta. Ou melhor, de uma galáxia imaginária.
Fernando Duval abre a série de reportagens que, até setembro, apresentará semanalmente os 10 artistas gaúchos que participam da Bienal. Nesta edição, a mostra de arte contemporânea realizada na Capital conta com mais de 60 convidados de 26 países, sendo 15 os brasileiros.
Com uma obra inspirada por um universo fantástico, Duval, que completa 76 anos nesta sexta-feira, aproxima-se de um dos eixos curatoriais da Bienal, o que relaciona arte e ciência, criação e investigação, a partir de artistas que especulam o desconhecido.
Desde o fim dos anos 1950, o pelotense radicado no Rio de Janeiro desenvolve a narrativa verbal e visual de um lugar chamado Wasthavastahunn, o único continente habitado do planeta Fahadoika, da galáxia Washemin. Em desenhos, pinturas e textos, Duval conta a história desse mundo muito particular, apresentando os astros, a geografia, a fauna, a flora, a arquitetura e a civilização. O aspecto mágico percorre todo o imaginário de sua obra, dando a ela um tom infantil e satírico.
Para a Bienal, Duval produzirá um livro ambientado, claro, em Wasthavastahunn. Contará a história do Bivar, animal que nunca foi visto no planeta. Será uma edição em grande formato, com 30 ilustrações em acrílico e nanquim, acompanhadas por textos do artista.
- Essa história é contada por um professor que faz conferências sobre o Bivar, relatando as expedições que tentaram localizá-lo. Houve naufrágios, avalanches, mas ninguém conseguiu achá-lo. O máximo que se viu foi uma sombra dele em uma pedra - conta.
O lançamento ocorrerá na Feira do Livro de Porto Alegre, pela Editora Projeto, em uma das ações que a 9ª Bienal busca promover em parceria com eventos culturais da cidade.
Nascido em 1937, Duval estudou na Escola de Belas Artes de Pelotas. Aos 19 anos, foi morar no Rio, então capital federal, quando seu pai, Joaquim Duval, elegeu-se deputado federal pelo PSD - já havia sido prefeito da cidade e deputado estadual.
- Imagina eu saindo de Pelotas e chegando ao Rio em 1957. Foi um contraste tremendo. O Rio era a capital, estava sendo construído o Museu de Arte Moderna (MAM). Estudei nele quando a sede ainda não estava pronta. Era um momento entusiasmante - lembra.
Foi no MAM que Duval conviveu com Ivan Serpa, com quem teve aulas, e conheceu artistas como Aluísio Carvão, Fayga Ostrower e Edith Behring. Quando as vanguardas abstratas tomaram a cena artística brasileira, dividindo cariocas e paulistas, geométricos e informais, Duval influenciou-se pelas diferentes orientações, refletidas em uma fase marcada pelo uso do preto e branco. A seguir, passou a trabalhar com cores primárias em trabalhos mais figurativos e logo começou desenvolver seu universo fantástico. Primeiramente, em livros de edição única que mostrava apenas aos amigos. A virada em sua obra deu-se no começo dos anos 1970, quando o
Wasthavastahunn se tornou o tema permanente de sua produção.
- Eu fazia esses livros de exemplar único com ilustrações e máquina de escrever. Até que o crítico Antônio Bento conheceu o trabalho e me provocou a mostrar esse meu mundo, por ser algo divertido e inédito. Fiz 50 trabalhos já apresentando a fauna e a flora. A partir de então, esse mundo imaginário tornou-se uma constante - conta Duval, que vive no mesmo apartamento em Copacabana que ganhou ainda jovem do pai: - Olho para direita e vejo o Cristo. Olho para a esquerda e vejo o mar.
A série
Terça-feira (09/07):
> Fernando Duval (1937, Pelotas)
Até setembro:
> Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Leonardo Remor (1987, Ipiranga do Sul)
> Leticia Ramos (1976, Santo Antonio da Patrulha)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)