
A aprovação de normas nacionais para a cobrança de meia-entrada em espetáculos culturais, artísticos e esportivos, prevista para ocorrer nos próximos dias, pode ter um efeito colateral indesejado.
Com o objetivo de democratizar o acesso às atrações culturais, a lei deve resultar em ingressos mais caros para quem não tem direito ao benefício em cidades como Porto Alegre. Essa é a previsão de produtores culturais.
Saiba o que muda nas regras de meia-entrada na Capital
As novas regras, que terão impacto prático após um período de regulamentação, preveem que os preços reduzidos estarão limitados a 40% dos bilhetes vendidos, uma antiga reivindicação de produtores e empresários. Mas também estabelecem que o desconto concedido será sempre equivalente à metade do valor integral e revogam políticas locais mais flexíveis, como a adotada atualmente na Capital, onde o abatimento oferecido é menor em finais de semana.
Segundo empresários e produtores culturais, o Estatuto da Juventude, que aguarda sanção presidencial e estende o benefício para jovens de baixa renda entre 15 e 29 anos, e o projeto de lei que estabelece uma política nacional de meia-entrada (que pode ser aprovado nesta semana) vão alterar a equação de preços em vigor em Porto Alegre. Pela lei municipal, o desconto é de apenas 10% aos sábados e domingos, nos cinemas, e de sexta a domingo em apresentações de teatro, música e dança. Apenas nos outros dias, de menor movimento, valem os 50% de redução.
Essa foi uma medida negociada quando a regra porto-alegrense entrou em vigor, em 2006, para reduzir perdas dos produtores. Com a aplicação da lei federal, que se sobrepõe às políticas locais, a metade do preço será o padrão geral. O presidente do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do Estado, Ricardo Difini Leite, sustenta que a alteração vai resultar em elevação no preço integral em médio prazo - em percentuais ainda incertos.
- Deverá haver um aumento no valor do ingresso, não digo no dia seguinte à lei, mas quando tivermos um cálculo de em quanto a mudança vai reduzir a receita das empresas - afirma Leite.
Segundo o exibidor, o modelo adotado por Porto Alegre permite que as salas Imax, por exemplo, tenham ingresso vendido a R$ 30, contra R$ 40 em São Paulo. Na área teatral, o ator Zé Victor Castiel acredita que muitas produções também vão reajustar preços para se adequar à nova política de meia-entrada - embora ele considere o eventual aumento um erro pelo risco de afugentar o público dos teatros:
- É como lancheria, é melhor vender barato, mas para um monte de gente. Infelizmente, muitas pessoas vão aumentar o valor do ingresso.
O aumento de preços pode se repetir ainda em atividades como shows e eventos esportivos. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado, Fábio Cunha, a categoria espera a inclusão de última hora de uma cláusula no projeto federal que isente atrações que já cobram preços populares da obrigação de oferecer meia-entrada. Isso está sendo discutido em Brasília.