
Em 2012, Porto Alegre registrou uma invasão estrangeira sem precedentes. Somente no segundo semestre, mais de 20 atrações internacionais desembarcaram na cidade para shows, a maioria deles inéditos. Este ano, a situação tem sido bem diferente, com apresentações sendo canceladas, remanejadas para locais menores por falta de público ou artistas passando reto pela Capital. E não há sinal de melhora para 2014.
O fim da superoferta de shows havia sido preconizado pelo produtor Fábio Nunes, em reportagem publicada no Segundo Caderno em setembro de 2012, que tratava justamente da avalanche de artistas no último trimestre daquele ano. Enquanto os fãs quebravam a cabeça para não entrar no vermelho com tanta oferta, Nunes alertava que a mesma preocupação era dividida com as produtoras.
- Como muita gente perdeu dinheiro naquele momento de euforia, houve uma retração natural. Ninguém quis se arriscar em 2013 a trazer um show que não tivesse plenas condições de se pagar, como ocorreu no final de 2012 - analisa Nunes.
Esforço não faltou, segundo Lucas Giacomolli, da Hits Entretenimento. Tratativas para trazer músicos que vieram para o Rock in Rio e fizeram shows em outras praças, como Bon Jovi, Bruce Springsteen e Beyoncé, até foram iniciadas, mas a conta dificilmente fecharia: muitas dessas atrações cobram cachês tão altos que só se pagariam com ingressos esgotados - uma manobra arriscada para o momento atual. Em vez disso, a empresa decidiu trabalhar com artistas mais acessíveis, só que em outro lugar: promoveu Ringo Starr e Aerosmith em Curitiba.
- O fator ineditismo conta muito, e os dois já passaram por Porto Alegre, o que diminui o interesse do público e, consequentemente, fica mais difícil fechas as contas - diz Giacomolli.
Além dos artistas que não vieram, muitos tiveram seu alcance superdimensionado e os shows precisaram ser remanejados para locais menores, como Chris Cornell (das quase 3 mil pessoas do Pepsi On Stage para pouco mais de mil no Teatro do Bourbon Country) e o projeto Elvis Presley In Concert (do Estádio do Zequinha passou para o Gigantinho e terminou no Araújo Vianna).
Nesta semana, a lista de shows transferidos aumentou: inicialmente programada para o Pavilhão da Fiergs, que comporta 14,5 mil pessoas, a Dave Matthews Band, que toca na Capital no dia 11 de dezembro, foi realocada para o Pepsi. As razões oficiais quase nunca apontam baixa venda de ingressos - fala-se em problemas técnicos, de logística ou, no caso de Matthews, em proporcionar "uma apresentação mais intimista para os seus fãs".
Seja qual for o motivo, o objetivo é sempre evitar um prejuízo que já desponta no horizonte, como explica Carlos Branco, da Branco Produtora:
- Muitas vezes, você marca um show num determinado local, não por uma expectativa do público que vai, mas em cima do seu custo e da necessidade que você tem de vender X ingressos. Quando vê que não vende, passa o show para um local menor, para tentar diminuir o custo e minimizar as perdas. Na maioria das vezes, é isso que acontece.
Quando nem mudar de lugar parece ser uma solução viável, o jeito é cancelar. A Blitz alegou "readequação de agenda", as cantoras Manu Gavassi, Mika e a girl band Girls, que se apresentariam hoje no Pepsi On Stage, não vieram "por conta de compromissos com gravações de outros projetos de TV de que participam" e Beck deu adeus a Porto Alegre por "problemas técnicos e logísticos", embora tenha mantido os demais shows da turnê sul-americana em São Paulo, Chile e Argentina.
Para Branco e Nunes, o mercado de Porto Alegre passa atualmente por uma fase de readequação e deverá culminar num meio-termo entre o que havia antes e depois do boom de shows. Nunes aposta ainda que atrações internacionais de pequeno e médio porte, como as que pipocaram nos anos 2011 e 2012, não deverão mais ser recorrentes no calendário de shows da Capital no próximo ano:
- Temos uma nova situação de mercado e acredito que só shows realmente grandes e inéditos, no nível de Rolling Stones e AC/DC, serão bem-sucedidos. Quem conseguir trazê-los vai se dar bem.