
A crítica de teatro mais emblemática do Brasil vai parar.
Barbara Heliodora, 90 anos, diz que publicará seu último texto neste mês, no jornal O Globo, onde escreve há 23 anos, e depois dará como encerrado o ofício que exerce desde o final de 1957. Desde então, ficou sem escrever críticas somente entre 1964 e 1985, período em que lecionou teatro na Unirio.
Por que tomou a decisão?
- Porque já estou cansada. Estou com 90 anos, o que é isso? Acho que está na hora - afirma a Zero Hora, em sua residência no Cosme Velho, no Rio, o mesmo bairro onde viveu Machado de Assis.
Barbara diz que começou a pensar na aposentadoria há mais de um ano. Há dois ou três meses, acertou a saída com O Globo. Passará a escrever sobre teatro eventualmente, mas não críticas. E quer se dedicar à tradução de peças clássicas.
- Quero muito fazer traduções de coisas que eu acho que deveriam ser traduzidas e não foram. Traduzi agora A Tragédia Espanhola, do (Thomas) Kyd. Estou traduzindo Doutor Fausto, do (Christopher) Marlowe. E estou com um grande sonho, que é traduzir O Cid, do (Pierre) Corneille, que eu adoro. Os franceses são muito mais difíceis do que os elisabetanos. Traduzi Le Misanthrope, do Molière, que a (editora) Zahar vai publicar agora.
Em sua trajetória, Barbara Heliodora se tornou uma das maiores especialistas em Shakespeare no país. Suas traduções das peças do dramaturgo inglês são consideradas modelo. Publicou livros sobre o autor, como Falando de Shakespeare (Perspectiva) e O Homem Político em Shakespeare (Agir). Entre suas obras, também está a coletânea de críticas Barbara Heliodora - Escritos sobre Teatro (Perspectiva), lançada em 2007, com organização de Claudia Braga.
Pela franqueza de seus textos na imprensa, criou-se em torno de Barbara a imagem de uma crítica severa. Seus elogios costumam ser recebidos com particular entusiasmo pelos profissionais do teatro. Com a sinceridade que lhe é peculiar, ela explica que não deixará de assistir a espetáculos depois da aposentadoria da crítica, mas será seletiva:
- Chega uma hora que cansa. Tenho visto muita coisa que queria sair no meio e não posso. Então, é melhor não ver mais. Quando a gente vê uma coisa boa é ótimo. Mas este ano foi fraco, apesar de ter tido algumas poucas peças muito boas. De um modo geral, acho que a situação econômica do teatro no Rio de Janeiro está muito precária. As produções estão fraquejando.
Ela conta que ainda não decidiu como será o último texto.
- Ainda estou pensando se vou escrever uma crítica de adeus ou não. Não sei se vale a pena, se terei inspiração suficiente para isso.