
A estreia do documentarista Juan Zapata em longa-metragem de ficção se dá por um desvio de rota. A história da amiga Simone Telecchi era por demais interessante, e as tentativas de apresentá-la na forma de depoimentos lhe pareceram tão frustrantes que o cineasta colombiano radicado em Porto Alegre optou por explorar um registro ambíguo. Simone, o filme, traz Simone, a personagem real, encenando a sua própria história.
Com estreia marcada para sexta-feira no Instituto NT e na Casa de Cultura Mario Quintana, Simone dramatiza um instante emblemático na vida de Simone, quando a atriz, então com 30 anos, após ter sempre se relacionado com mulheres, se envolveu com um homem. A situação é recriada com liberdade pelo diretor - que assina o roteiro com Maressa Sampaio e Edson Gandolfi -, apresentando o triângulo formado por Simone, a personagem, Cris (vivida pela atriz uruguaia Natália Mikeliunas) e Pedro (Roberto Birindelli, uruguaio radicado no Brasil).
- A Cris é como uma síntese das mulheres que se relacionaram com a Simone, e o Pedro é como eu visualizei aquele que foi o responsável por essa grande transformação que ela viveu - afirma Zapata.
Zapata lembra que conheceu Simone por meio de amigos em comum. Ao saber de sua história, comentou com a atriz sobre o potencial cinematográfico da experiência, sugestão abraçada por ela. Com uma narrativa fragmentada, que se alterna em dois tempos cronológicos, acompanha-se a apaixonada convivência entre Simone e Cris entrar em turbulência. É quando entra em cena Pedro, colega de trabalho da protagonista.
- Essa proposta narrativa mais experimental era necessária porque a história é revista a partir de lembranças que ressurgem fragmentadas, distorcidas pelo tempo e por situações vividas posteriormente - diz o diretor.
O orçamento de R$ 520 mil foi levantado via sistema colaborativo virtual, recursos de produtores associados e o prêmio do governo gaúcho para finalização de longas, entre outros aportes. Atuante na distribuição do cinema latino, Zapata já exibiu Simone em festivais internacionais e assegurou o lançamento do filme em oito países: Colômbia, México, Equador, Portugal, EUA, Espanha, Bolívia e Guiana Francesa, além de negociá-lo com canais de TV e com o iTunes. Simone também estreia semana que vem em São Paulo, Brasília e Fortaleza.
O filme tem a participação de Luis Fernando Verissimo, em sua anunciada estreia no cinema. O escritor aparece tocando sax na esquina das ruas Uruguai e Andradas, na Capital, com seus parceiros do grupo Jazz 6 Paulinho Cardoso e Luis Fernando Rocha. A presença ilustre foi intermediada por Edinho Espindola, baterista do Jazz 6 e marido de Simone.
- Aprendi a ler em português com ajuda dos textos do Verissimo. Quis homenageá-lo. O engraçado é que eles arrecadaram cerca de R$ 15 até as pessoas se darem conta de que era o Verissimo que tocava - conta Zapata.