Daniel Feix
Eduardo Coutinho (1933 - 2014) é geralmente apresentado como documentarista, mas pertence àquele seleto grupo de artistas cujas classificações, seja quais forem, inevitavelmente soam limitadas. Talvez não houvesse, hoje, cineasta mais importante em atividade no Brasil.
Sua mais aclamada revolução se deu com Cabra Marcado para Morrer (1985), projeto violentamente interrompido pelos agentes da ditadura militar e retomado, após a abertura política, com doses de autocrítica e despojamento suficientes para transformá-lo numa síntese do país e da própria posição do artista diante daquele estado de coisas.
Mas foi a partir do fim dos anos 1990, depois de um longo hiato trabalhando para a televisão, que Coutinho efetivamente mudou o cinema nacional. Usando câmeras portáteis digitais, uma novidade à época, pôde se aproximar de seus entrevistados sem se preocupar com restrições de espaço e tempo, transformando conversas com personagens anônimos em acontecimentos de raro impacto para o espectador.