
Desta vez, até o público atrasou. Se em 2010 Axl Rose deixou os fãs quase quatro horas plantados aguardando o começo do primeiro show do Guns N' Roses na Capital, o trânsito caótico desde o centro de Porto Alegre até o Pavilhão da Fiergs fez com que, no horário programado para o começo da apresentação nesta quinta-feira - às 21h -, boa parte da plateia ainda estivesse em grandes filas na calçada da Avenida Assis Brasil.
Por isso, quando os alto-falantes soaram a trilha de abertura do seriado True Detective e deram início à apresentação da banda, às 22h18min, os 78 minutos de demora nem foram considerados um contratempo pelos milhares de devotos do grupo que continuavam a chegar ao local.
O maior problema, na verdade, não foi o tempo, foi o som. Uma equalização altamente estridente fez com que os solos de guitarra e os gritos mais agudos de Axl soassem como espinhos de rosa a espetar os ouvidos do público. Alguém se importou de fato? Apenas o vocalista, que pediu para a banda repetir a introdução de Better porque não conseguia ouvir direito a si mesmo. Quando o show começou pra valer, no momento em que o riff de Welcome to The Jungle sucedeu a chatice de Chinese Democracy, a plateia formada em sua maior parte por fãs adolescentes e jovens de vinte e poucos anos foi ao delírio.
A recepção calorosa de um público rejuvenescido aos hits dos anos 1980 e do começo dos 90 demonstrou que, a despeito da má qualidade do som, da barriga saliente de Axl Rose e de o Guns N' Roses ter se transformado em uma banda cover de si mesma , ainda há espaço e plateia para um hard rock pegado e sustentado por riffs melódicos, mas pesados. O problema é que tem muita banda choramingando suas dores por aí, mas poucas dispostas a botar as novas gerações a bater cabeça como a do tio Axl.
Então, mesmo barrigudinho e ofegante, alternando figurinos com jaquetas de couro azul e preto, além de chapéus marrom, preto e de oncinha, o mentor do Guns segue como referência para garotos como Ryan Cardoso Figueiredo, 13 anos, que levou duas horas para viajar de Praia Grande (SC) a Porto Alegre com o pai para ver o primeiro show da sua vida (os porto-alegrenses levaram o mesmo tempo para ir do Centro à Fiergs no final da tarde via freeway).
- Tirei foto e filmei o show para mostrar para os meus amigos lá de Santa Catarina que não puderam vir. Gosto de Guns N' Roses desde que ouvi Sweet Child O'Mine na televisão - contou Ryan.
Ryan e o resto da multidão vibraram não apenas com a clássica Sweet Child O'Mine, mas outros clássicos das antigas como Used To Love Her, You Could Be Mine, November Rain e Paradise City. O show contou ainda com os tradicionais covers de Live And Let Die (Wings) e Knockin' on Heaven's Door (Bob Dylan), fora belos solos de guitarra do excelente trio formado por DJ Ashba, Richard Fortus e Bumblefoot, que apresentou o Tema da Vitória dos pódios de Ayrton Senna e se enrolou em uma bandeira do Brasil com o símbolo do Guns no centro.
Imagina-se que um garoto como Ryan teria pouca coisa em comum com uma senhora de 59 anos, Dulce Chim, que viajou de ônibus em uma excursão de jovens desde Rio Grande para curtir o Guns N' Roses na Capital. No entanto, lá estavam os dois desconhecidos, lado a lado, batendo cabeça ao som de Paradise City ao final da apresentação de duas horas e 42 minutos.
- Gosto do Metallica, do Sepultura de antigamente, do Queen e do Guns N'Roses - contou Dulce, apenas sete anos mais velha que Axl.