Fábio Prikladnicki
Lourdes Rodrigues consagrou-se, sobretudo, como cantora da noite. A Dama da Canção, como ficou conhecida, gravou apenas dois discos.
O primeiro foi o LP Utopia, em 1985, com faixas de Flavio Pinto Soares e Paulo Rogerius (um exemplar, hoje raro, pode ser encontrado por quase R$ 90).
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Soares empregou Lourdes - e outros músicos - no cartório de sua propriedade. Antes, a cantora havia lecionado em duas escolas estaduais. O segundo álbum foi o CD Dona Divergência, lançado no final de 1999, com canções de Lupicínio Rodrigues e outros clássicos da música popular, como As Rosas Não Falam e Chão de Estrelas. Em 1998, participou do disco Porto Alegre Canta Tangos. A artista não se arrepende de ter gravado pouco. Justifica que os contratos oferecidos pelas gravadoras costumam ser prejudiciais aos artistas no quesito financeiro:
- Já tive propostas, mas não aceitei. Queria, pelo menos, que os valores fossem divididos corretamente. Mas é sempre eles, eles, eles (os executivos das gravadoras). Tu vês que os grandes artistas de agora procuram ser quase independentes.
Hoje, Lourdes vive principalmente de uma pensão especial garantida por lei estadual publicada no final de 2012, devido a sua contribuição artística. Segundo Bia, a empresária e amiga, o pedido do benefício foi uma batalha de dois anos. Ela se queixa de alguns cachês oferecidos à cantora, principalmente no Litoral. Mas Lourdes não gosta de dizer não.
A cantora teve dois casamentos. O primeiro foi com Luiz Octávio, crooner do Conjunto Melódico Norberto Baldauf, com quem teve uma filha e de quem se divorciou (Alemão Octávio, como era conhecido, morreu em 2013). Lourdes é viúva do segundo marido, o ex-jogador do Internacional Ezequiel, com quem adotou dois filhos. Tem netos e bisnetos, mas a relação com a família, segundo ela, "acabou".
- É uma coisa que não falo para ninguém, mas posso falar: no momento em que passei a não dar mais dinheiro, a família se afastou. Chamaram o silêncio, e eu também.
Lourdes tem dificuldade para caminhar. Toma 11 comprimidos por dia, entre medicamentos para o diabetes e para o coração. No palco, esquece dos problemas ("A música é uma terapia"). Garante que a voz "não mudou nada" com o passar do tempo. Autodidata, diz que não pratica exercícios para a garganta:
- Sempre cantei com o dom que Deus me deu.
Em casa, o passatempo preferido é a televisão:
- Gosto de ver o Datena (risos). Também gosto de sair, viver a vida. Mas tem horas em que quero ficar quietinha no meu canto, pensando, às vezes tirando uma música nova.
A carreira, em sua avaliação, tem sido uma trajetória ascendente:
- Eu me considero, graças a Deus, uma vitoriosa. Outras cantoras dizem: "Vou deixar a música, porque não dá". Para mim, sempre deu. O telefone está sempre tocando, estou sempre trabalhando. E vou dizer uma coisa: não sei parar.
Parte 1: "Em Porto Alegre, não se tem sossego", diz Lourdes Rodrigues, que mora em Imbé