
O projeto que libera biografias sem autorização de biografados ou herdeiros não havia sido sequer aprovado pela Câmara dos Deputados, mas Domingos Pellegrini, 64 anos, resolveu desafiar a legislação: lançou seu Minhas Lembranças de Leminski. O livro em que o paranaense conta as memórias de sua relação com seu conterrâneo, o poeta Paulo Leminski, não teve aprovação das herdeiras do biografado. Pellegrini é jornalista e escritor, tendo mais de 30 títulos lançados. Na entrevista, o autor fala sobre as tentativas de contato com a família, a opção de publicar o texto mesmo contra a legislação atual e o projeto de lei do deputado Newton Lima (PT-SP) que quer mudar a legislação sobre os textos biográficos e aguarda aprovação do Senado e sanção presidencial para vigorar.
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Como foi a relação com a família de Leminski para escrever a biografia?
Não houve relação: simplesmente não respondiam meus e-mails. Recebi um convite da editora Nossa Cultura para escrever a biografia. Eu teria sido escolhido pelas herdeiras do Leminski para o livro. Fiquei honrado. Quis fazer um texto como um poliedro, já que Leminski tinha várias facetas. Também misturei informações biográficas com psicologia, antropologia, teoria da literatura etc. Fiz os dois primeiros capítulos, enviei para as herdeiras, mas elas não me responderam.
Por que você acredita que houve esse afastamento?
Talvez porque quisessem uma biografia mais chapa-branca, tratando mais da participação da Alice Ruiz (viúva do poeta) na vida dele e falando menos do alcoolismo, o que acredito que seria profundamente desonesto. Com o livro pronto, eu mesmo escrevi para a Alice: "Ou você responde, ou coloco o livro na internet". Ela respondeu com duas ressalvas: tocava demais no alcoolismo e no fato de eles viverem pobremente. Mesmo assim, publiquei na rede.
E como finalmente conseguiu publicar o impresso?
A Geração Editorial se interessou pelo texto na internet. Eles disseram: "Nós vamos publicar com ou sem a nova legislação", correndo o risco de ter a edição embargada. Acreditavam que a legislação precisava mudar, e esse foi um ato para contribuir.
O que você acha do projeto de lei aprovado pela Câmara?
Acho que o Brasil ganha em liberdade e responsabilidade. Com a emenda Caiado (texto do deputado Ronaldo Caiado, DEM-GO, acrescido ao projeto), se os herdeiros ou o biografado acharem que há algum trecho a ser corrigido ou expurgado, um pedido deve ser feito ao juiz. As correções devem entrar em uma próxima edição, se a Justiça julgar pertinente.
O que temos a ganhar ao saber de detalhes da vida privada de um biografado como, por exemplo, o alcoolismo de Leminski?
Quem ler o livro vai ver que se ganha muito. Não trato disso de modo sensacionalista, e sim de forma humana. É uma biografia para adensar o mito que foi Leminski.
Minhas Lembranças de Leminski
Domingos Pellegrini
Geração Editorial
Biografia, 200 páginas, R$ 34,90.
Cotação: 4 de 5 estrelas