A ausência da crítica é um dos assuntos mais debatidos no meio cultural, mas nunca estivemos tão longe de uma solução, pelo menos no Rio Grande do Sul. Costuma-se responsabilizar os grandes veículos de comunicação pela diminuição do espaço das resenhas de espetáculos. Mas essa não é a única questão.
Prova disso é que não surgiram no Rio Grande do Sul, nos últimos anos, sites ou blogs dedicados à crítica teatral, talvez com uma única exceção (o blog de Rodrigo Monteiro, hoje radicado no Rio). Por que os novos críticos não estão presentes nas mídias alternativas? Porque não há novos críticos. E por que não? Bem, aí começa o plano da especulação.
Um aspirante a crítico de teatro, no Rio Grande do Sul, precisa trilhar o caminho do autodidatismo. As universidades e os demais centros de ensino formam atores, diretores e professores, mas não críticos (nem dramaturgos, mas esta é outra história). Pode-se cursar um mestrado, mas isto também não tem sido suficiente para o aparecimento de novos talentos.
Vou contar uma história. Em setembro de 2013, procurei um especialista que pudesse realizar uma avaliação dos 20 anos do Porto Alegre Em Cena em uma reportagem. Falei com três professores renomados de Porto Alegre, mas nenhum deles se sentiu à vontade para participar. Recorri a um corajoso jornalista e crítico de São Paulo, Valmir Santos, frequentador assíduo do Em Cena, que topou a empreitada.
Outra história. Participei diversas vezes de comissões julgadoras de prêmios. Os integrantes dessas comissões - atores, diretores, jornalistas - costumam ser bastante sinceros em suas opiniões nas reuniões a portas fechadas. Mas há uma ideia tácita, entre alguns, de que críticas negativas não podem ser ditas na frente dos artistas. Eu pergunto: por que não?
Essa reflexão não se restringe ao teatro. Quantos críticos de música clássica temos no Estado? Precisamos de cursos específicos de crítica, oficinas, grupos de debate, blogs coletivos. Uma nova geração precisa surgir. Contra a cultura do tapinha nas costas, todos temos um papel.
Coluna
Fábio Prikladnicki: Onde estão os críticos?
Uma nova geração precisa surgir
Fábio Prikladnicki
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