
Luiz Bolognesi é um dos mais conhecidos roteiristas brasileiros, por conta de seu trabalho em parceria com a diretora Laís Bodanzky, sua mulher - o casal assina filmes como Bicho de Sete Cabeças (2001) e As Melhores Coisas do Mundo (2010). Mas nenhum trabalho que já fez, garante ele, foi tão complexo quanto Amazônia, coprodução entre França e Brasil em cartaz nos cinemas em versão 3D.
Com aparência de um documentário sobre a exuberante natureza da região norte do Brasil, Amazônia é uma trama de ficção que tem como protagonista Castanha, macaco-prego domesticado que, após um acidente aéreo, tem de se virar sobrevivendo na floresta. Em meio a aventuras e perigos, a convivência com a fauna local fará o herói conhecer a macaquinha Gaia. Em português, os personagens ganharam as vozes de Lúcio Mauro Filho e Isabelle Drummond.
Projeto desenvolvido ao longo de três anos e filmado em 10 meses, Amazônia é dirigido pelo francês Thierry Ragobert. Afora a empreitada logística, a complexidade da realização orçada em 14 milhões de euros (cerca de R$ 42 milhões) resulta da proposta de não haver interferência humana no habitat e no comportamento dos animais. Os diálogos foram escritos por Luiz Roberto Torero, e as imagens, captadas em meio a um paciente trabalho de observação.
- Foi desafiador criar um filme de ficção com um arco dramático explorando diferentes situações vividas por um personagem que é um macaco - diz Bolognesi a ZH. - Fiz um trabalho de campo com biólogos e caboclos, para conhecer bem o comportamento de um macaco como o Castanha. Eu tinha de saber o que podia ou não escrever.
O roteirista identifica um alto potencial dramático na natureza:
- A floresta é um lugar onde literalmente o bicho pega. É preciso desenvolver estratégias de sobrevivência, como a de ser dissimulado. Um macaco macho não ingressa num grupo que tem um macho alfa dominante. Fica rondando esse grupo e pode adotar um comportamento de fêmea, como uma espécie de serviçal do líder, catando piolhos, por exemplo. Mas, quando este se afasta, o intruso pega geral.
Bolognesi explica que entrou no projeto quando uma primeira versão do roteiro já estava escrita:
- Fui procurado pelos produtores franceses após eles assistirem, no Festival de Veneza, ao longa Terra Vermelha (coprodução de 2008 entre Itália e Brasil), com roteiro meu e que tem como tema a questão indígena no Brasil. Não estavam satisfeitos com o roteiro de Amazônia, achavam que tinha de ter o olhar de um brasileiro.
Segundo o roteirista, a equipe de Ragobert foi atrás das situações previstas no roteiro, missão que contou com imprevistos:
- Em algumas situações, foi necessário improvisar. Em vez de o Castanha subir numa árvore e fazer determina coisa, ele subia em outra e reagia de maneira diferente. E em função do perfil do Castanha, tive de tomar umas liberdades. O grande predador do macaco é a harpia, o gavião-real, e não a onça. Mas a onça é o Brad Pitt da floresta, não tinha como não ter destaque. Até o porque o Castanha é diferente dos outros macacos. Ele anda muito pelo chão e vai acabar cruzando com a onça.
Amazônia, na avaliação de Bolognesi, é um filme "para toda a família":
- O filme já é um sucesso internacional. Foi vendido para mais de 70 países, teve críticas elogiosas em publicações importantes. Eu fico agoniado é com seu desempenho aqui no Brasil. A gente nunca sabe como vai ser. É preciso colocar no imaginário das crianças brasileiras animais como onça, macaco, paca, capivara, e não apenas aqueles que são populares na fauna africana.
Veja o trailer de Amazônia: