Em 1994, comandada pelo então vocalista Chico Science (1966 - 1997), a Nação Zumbi lançava Da Lama ao Caos, seu disco de estreia e um dos que ajudaram a redefinir o cenário musical da época. Vinte anos depois, a banda mantém intacto seu DNA com um álbum homônimo recém-saído do mangue.
O parto do novo disco dos homens-caranguejo, no entanto, não foi simples. Sucessor de Fome de Tudo (2007), o álbum estava em finalização em 2012, quando acabou na geladeira para que a banda e seus integrantes se dedicassem a outras atividades. O vocalista Jorge du Peixe participou da trilha sonora do filme Febre do Rato (2011) e montou o projeto Afrobombas. Paralelamente, a Nação Zumbi integrou o CD e DVD ao vivo de Marisa Monte, Verdade Uma Ilusão, e lançou um disco em que tocava músicas do coirmão Mundo Livre S.A.
- Essa parada de dois anos foi boa para o disco - avalia Jorge, em entrevista por telefone. - Pudemos mexer nos vocais, nas letras e agregar elementos dos trabalhos paralelos. No fim, lançamos um trabalho mais bem acabado.
Nação Zumbi, o álbum, está longe da crueza e do peso de Da Lama ao Caos. A bateria de Pupillo, Gilmar e a percussão de Jorge e Toca Ogan continuam poderosas e onipresentes, mas já não é em torno delas que as canções são construídas. Ganha mais espaço a guitarra de Lucio Maia, que pode ir da surf music ao iê-iê-iê numa mesmo canção (Cicatriz), beber do pós-punk (Foi de Amor) e balançar como reggae (Defeito Perfeito).
- A Nação Zumbi sempre olha para frente, não temos intenção de nos repetir. Por isso até que buscamos novos produtores, que trouxessem o frescor que queríamos - aponta Jorge.
A produção do novo álbum ficou a cargo de Berna Ceppas, integrante da Orquestra Imperial e com trabalhos no Cirque du Soleil, e Kassin, velho conhecido da nova geração da MPB. A dupla foi responsável por tornar o disco mais leve e variado, inserindo elementos eletrônicos que agregam textura ao som característico que a Nação lapida desde os anos 1990.
As composições, todas assinadas por Jorge, Dengue, Pupillo e Lucio Maia, seguem refletindo pequenos dramas existenciais do homem moderno, como a violência (Bala Perdida), a felicidade (A Melhor Hora da Praia, com participação de Marisa Monte) e os amores venenosos (Foi de Amor). Mais pragmática, Pegando Fogo é séria candidata a hino das manifestações que devem varrer o país durante a Copa: "Vem ardente / Mais que urgente, tremulante / Toda dançante, atiçando a todo instante / E a cena ficando quente".
Sintetiza Jorge:
- Passamos por essas duas décadas com a nossa essência intacta e temos orgulho disso. Esse disco é, como dizemos, um novo endereço para o mesmo lugar.
De volta ao mesmo lugar
Nação Zumbi retorna explorando sonoridades
Novo disco mantém o DNA da banda, mas não deixa de buscar novas possibilidades sonoras
Gustavo Brigatti
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