
No subúrbio carioca, um triângulo amoroso alimentado por mentira, desejo e perversidade culmina em uma tragédia hedionda. Eurípedes e Nelson Rodrigues encontram-se em O Lobo Atrás da Porta, o melhor filme brasileiro a chegar aos cinemas desde O Som ao Redor (2012).
Estreia no longa-metragem do diretor Fernando Coimbra, o suspense revela as histórias que cercam o sequestro de uma criança: quando Sylvia (Fabíula Nascimento) descobre que uma desconhecida foi buscar sua filha de seis anos na escola, a polícia chama seu marido, Bernardo (Milhem Cortaz), para depor. Na delegacia, o homem confessa ao detetive interpretado pelo ator Juliano Cazarré seu caso com a bela Rosa (Leandra Leal). Aos poucos, os depoimentos de Sylvia, Bernardo e Rosa vão tecendo uma trama de amor passional, obsessão, traição e vingança.
- A origem foi uma história que eu li em 1998 em uma revista da década de 1960 sobre um crime parecido. A assassina era amante do pai da criança e, depois de presa, rejeitou qualquer defesa em seu julgamento. Ela dizia estar consciente do crime que cometeu e não se arrependia de nada. A mídia passou a chamá-la de "Fera da Penha". Me interessou ver o quão humana na verdade era essa mulher tratada como monstro, mostrar que uma atitude como essa não é tão incomum quanto parece - explicou o diretor e roteirista em entrevista por telefone.
Um dos trunfos de O Lobo Atrás da Porta é o elenco: as longas sequências sem corte permitem que o trio central expresse paixão, verossimilhança e densidade dramática. No filme, todos falam muito - os silêncios, porém, são mais eloquentes, denunciando a falta de comunicação entre os protagonistas, que parecem agir sem pensar.
- Quando escrevi o roteiro, não estava pensando em ninguém em particular. Cada ator veio de um jeito diferente. A Rosa era difícil de encontrar: tinha que ser jovem, mas com experiência, ter uma interpretação minimalista, muito no olhar. A Leandra tem isso, um olhar firme e, ao mesmo tempo, doce. Já para interpretar Bernardo, eu não queria um galã, um cafajestão, mas um tipo que provocasse tesão na Rosa. O Milhem pode ser brutal, delicado, engraçado. A Fabíula tem essa coisa de um lado meio cômico, e as brigas do casal têm um certo humor. Juntamos os três e foi ótimo - disse Coimbra.
Para além de injetar dinamismo no thriller, a alternância de pontos de vista dos personagens na narrativa permitiu a Fernando Coimbra acrescentar complexidade à trama de O Lobo Atrás da Porta:
- Investigando a história original, vi que as versões não batiam. A realidade do filme é subjetiva para cada personagem, levando assim não somente a uma única verdade, mas a verdades diferentes e conflitantes.
Rodado com baixo orçamento, de apenas R$ 1,5 milhão, O Lobo Atrás da Porta fez sua estreia mundial no Festival de Cinema de Toronto do ano passado. Melhor longa brasileiro do Festival do Rio 2013 e vencedor do prêmio de melhor atriz (Leandra), o filme já foi vendido para mais de 20 países.
Seis filmes nacionais recentes que investem no gênero suspense:
Trabalhar Cansa (2011), de Juliana Rojas e Marco Dutra.
Homem (Marat Descartes) perde o emprego e entra em depressão. Sua mulher (Helena Albergaria), ao contrário, vive a euforia de ter a própria renda como dona de um mercadinho. A nova rotina doméstica é perturbada por estranhos acontecimentos.
O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho
Chegada de equipe de vigilância privada em bairro de classe média de Recife se dá em meio ao tensionamento das relações entre moradores e segredos do passado que estão por vir à tona. Com Irandhir Santos.
Quando Eu Era Vivo (2014), de Marco Dutra
Após perder o emprego, homem (Marat Descartes) volta a morar com o pai (Antônio Fagundes) e uma jovem que aluga seu antigo quarto. Ao remexer em fotos e vídeos antigos, o protagonista revive traumas relacionados ao contato de sua mãe morta com o ocultismo.
Gata Velha Ainda Mia (2014), de Rafael Primot
Jovem jornalista (Bárbara Paz) convence famosa escritora reclusa (Regina Duarte) que é sua vizinha a lhe conceder uma rara entrevista. O encontro entre elas reabre feridas do passado e toma rumos inesperados.
Confia em Mim (2014), de Michel Tikhomiroff
Chef de cozinha (Fernanda Machado) que sonha em ter seu próprio restaurante se envolve com homem (Mateus Solano) que não é bem quem diz ser.
Isolados (2014), de Tomas Portella
Casal (Bruno Gagliasso e Regiane Alves) em crise viaja para uma região isolada para tentar salvar o relacionamento e acaba envolvido numa ciranda de violência. Estreia em agosto.