
Em seu sétimo concerto da temporada oficial de 2014, nesta terça-feira (3/6), no Theatro São Pedro, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) encarou um desafio: apresentar uma obra do polonês Krzysztof Penderecki, compositor nunca antes por ela interpretado. A peça escolhida foi o Concerto para Viola e Orquestra, escrito há pouco mais de 30 anos para o governo da Venezuela, em homenagem ao bicentenário do nascimento de Simón Bolívar.
Quando eu cursava a universidade em Montevidéu, tive oportunidade de conhecer Penderecki pessoalmente. Na manhã seguinte a um concerto com obras suas, fez um colóquio com os músicos locais, após o qual pude conversar com ele por alguns minutos.
Pareceu-me uma figura polêmica; disse que as pessoas tinham que escutar boa música mas, quando indagado sobre o que era boa música, respondeu que essa não era uma boa pergunta. E gostava de frases de efeito, como ao dizer que suas obras deveriam ser interpretadas tal qual a música de Mozart. Perguntei-lhe sobre o compositor Pierre Boulez, influência marcante em suas primeiras obras. Ele respondeu firmemente: "Eu não gosto de Boulez".
De fato, nas obras de sua maturidade, Penderecki afastou-se um pouco da estética avant-garde de sua juventude, como comprova o Concerto para Viola. Renato Bandel, o solista desta noite, esteve seguro e afinado, com um som vigoroso, demonstrando muita expressividade nas numerosas cadências da obra. A orquestra constava de sopros em pares, três percussionistas, tímpanos e cordas; mas a escrita cuidadosa, onde raramente tem-se toda a orquestra tocando junto com o solista, garantiu um bom equilíbrio sonoro.
Afora pequenas hesitações, a Ospa saiu-se muito bem: tocou com garra, reforçando a execução enérgica de Bandel. O maestro japonês Kiyotaka Teraoka, com sua técnica precisa, demonstrou um ótimo controle da orquestra. Esperemos que a Ospa siga com a mesma coragem, para enfrentar outros desafios em seu repertório no futuro.
Após o intervalo, a orquestra, agora com um efetivo maior, interpretou a segunda suíte extraída do balé Romeu e Julieta, do russo Sergei Prokofiev. Enquanto em Penderecki a dificuldade maior era a precisão rítmica, aqui é o virtuosismo técnico que predomina. Teraoka optou por reger com pouquíssimo intervalo entre os movimentos inicias, prendendo assim a atenção do público e mantendo a energia da performance. Novamente, ele esteve sempre em controle da orquestra, recebendo ao final do concerto a ovação do público que encheu o Theatro São Pedro. Um belo concerto.
* Músico e professor da UFRGS