Fábio Prikladnicki
Celebrando o centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), o espetáculo Lupi, o Musical - Uma Vida em Estado de Paixão estreou neste fim de semana no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Escrita e dirigida por Artur José Pinto, a peça se estrutura em dois planos entrelaçados. No tempo presente da narrativa, Lupicínio (Juliano Barreto) e seu parceiro Alcides Gonçalves (Lucas Krug) esperam por uma entrevista consagradora no auge da fama. Em um segundo plano, episódios da vida de Lupi (aqui interpretado por Gabriel Pinto) são recontados, da infância ao sucesso.
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Lupi, o Musical garante a satisfação do público com boas interpretações de grandes composições e outras menos conhecidas. Todos no elenco são cantores à altura da empreitada, e o regional de seis músicos dirigidos pelo violonista Mathias Pinto reproduz a batida cadenciada do samba-canção com competência. Nani Medeiros se destaca com ótimos números musicais em que interpreta, com emoção e fidedignidade, Elis Regina e Elizeth Cardoso. Pâmela Amaro também garante um bom momento cantando como Elza Soares.
A dramaturgia é o elo frágil. O texto parece costurado de maneira a dar conta das histórias por trás das canções (conforme relatadas por Lupicínio em crônicas e entrevistas), em vez de colocar as canções a serviço do drama. Privilegia o mito em detrimento dos fatos, caindo na cilada armada pelo próprio Lupicínio de fantasiar sua biografia. O público sai do teatro com a impressão de não ter descoberto nada de muito novo sobre o personagem.
Juliano Barreto, como o Lupi maduro, e Gabriel Pinto, como sua versão jovem, cantam em um registro mais imponente do que aquele que o compositor emprestava às suas canções, o que não é qualquer sacrilégio dentro das convenções deste trabalho. A qualidade musical da dupla é superior à teatral: neste quesito, carece de convicção e carisma. Como um todo, o elenco faz valer o espetáculo. Dentro de um contexto realista, é ousada a escolha de uma atriz (Pâmela Amaro) para viver Lupi na infância, o que confere graça ao papel.
Especialmente pelo trabalho musical, o espetáculo é uma homenagem contagiante, mesmo que irregular, a um personagem que continua sendo uma esfinge à espera de bons decifradores.
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