Cultura e Lazer

40 anos em uma noite

Série "Ocidentes", da TVE, relembra várias fases do Bar Ocidente

A reprise dos quatro episódios será exibida de sábado para domingo, à meia-noite

Daniel Feix

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Rainer / Divulgação
Mirah Laline na série "Ocidentes", da TVE

Depois da estreia, com sessões nas madrugadas desta semana, a série Ocidentes volta a ser exibida na TVE na virada da noite de sábado para domingo. A partir da 0h, de uma só vez, será possível ver os quatro episódios de 30 minutos que recriam o ambiente do tradicional bar da esquina da João Telles com a Osvaldo Aranha ao longo das quatro últimas décadas.

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Trajetória do Bar Ocidente é tema de série de ficção

O Ocidente foi cenário e personagem das mudanças comportamentais verificadas em Porto Alegre no período. Na série, concebida por Fabiano de Souza e produzida pela Rainer, quatro cineastas que testemunharam essa história a recriam a partir de dramas fictícios que espelham dilemas e personalidades de sua respectiva época. Carlos Gerbase dirige o episódio relativo aos anos 1980, Bruno Polidoro, aos 2000, e João Gabriel de Queiroz, aos 2010, além do próprio Fabiano, que assina o capítulo sobre os anos 1990.

Comecemos por aí, a década em que dava para passar no Bar do João ou no Baltimore antes de ver Júpiter Maçã berrando "Walter Victor tomador de panca" no palco do Oci. Com diálogos lindos e elaborados (aquele que fala de "educação sentimental" citando Foucault e Kid Abelha é inspiradíssimo), Fabiano de Souza narra o desenrolar de uma paixão adolescente no bar. Seu protagonista (Guilherme Kury) é a encarnação de um tipo comum, o jovem tímido a observar uma musa mais velha na pista, sempre deslumbrante e eventualmente namorando um roqueiro ou, no caso, o DJ.

A sensibilidade na composição dos personagens e na observação das situações se repete sobretudo no episódio dos anos 2000. Bruno Polidoro usa imagens da pista de dança para demarcar a passagem do tempo, concentrando a ação nas tensões estabelecidas no fumódromo. Há algo de provocativo na maneira confusa (e amoral) com que se dão as aproximações dos frequentadores: um cara (Henrique Larré) flerta com uma garota (Carolina Sudati), que, por sua vez, flerta com o sujeito (Márcio Reolon) que havia flertado com o primeiro cara - e o espectador, no meio da fumaça dos cigarros compartilhados, tem uma boa ideia de um conceito, o amor livre, que encontra guarida no Ocidente desde sempre.

É curioso, nesse sentido, comparar esse episódio com o da década de 1980. Carlos Gerbase explora as tensões de bastidores de uma banda de mulheres - incluindo uma paixão homossexual mal resolvida. Se Polidoro opta por silêncios e sugestões para evidenciar conflitos dramáticos, Gerbase aposta essencialmente nos diálogos para estabelecer a comunicação - entre os personagens e com o espectador. A verborragia da baterista (Joana Vieira) é simbólica de um tempo em que era preciso gritar mais alto para marcar posição - e no qual o Ocidente era um refúgio. No século 21, o refúgio segue lá, mas, não por acaso, foi ampliado e já não carrega tão fortemente a pecha de gueto.

Nos quatro casos, independentemente de escolhas estéticas e da irregularidade entre os episódios, as marcas de cada época estão muito bem reproduzidas na tela. E sem concessões - não é por outro motivo que não se poderá ver Ocidentes em outro horário na TV aberta.

  

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