Pode uma cantora com quase 70 anos de idade, às vésperas de completar 50 de palco, com cerca de 50 discos, estar no auge da carreira? Não conheço nenhuma na história da música brasileira senão Maria Bethânia. Aliás, não conheço nenhuma nem nenhum. Comparo com cinco gigantes: embora ainda tenham grande força criadora, Chico, Caetano, Gil, Milton e Paulinho já ultrapassaram seu auge. Pensei nisso ao ouvir o novo disco dela, Meus Quintais. É muito forte e íntegro, letras sobre a vida natural, canções que parecem emergir do folclore, belos arranjos levados por grandes instrumentistas (Maurício Carrilho, Toninho Ferragutti, Luciana Rabello, Fábio Nin, o gaúcho Pedro Franco), dando até mais do que sua atuação normal de profissionalismo e competência, ligadíssimos na temperatura do todo. Na capa e no encarte, os detalhes também dizem, o candeeiro, os entalhes em madeira (feitos por ela), a escultura da indiazinha abraçando a onça, as flores, a cabeça centenária da mãe no ombro da filha.