O escritor Andrew Solomon, que veio ao Brasil para lançar na Festa Literária Internacional de Paraty a nova edição de seu abrangente estudo sobre a depressão, O Demônio do Meio-Dia, recebeu durante a mesa de que participou, com mediação de Otávio Frias Filho, uma pergunta feita por uma leitora de cidade de Santa Maria.
Frias Filho explicou ao palestrante que a cidade havia passado no ano passado por um trauma coletivo com a tragédia da boate Kiss e então leu a pergunta que questionava o que o autor tinha a dizer a respeito da depressão de quem perde filhos e como sair dela. Solomon, que é casado com o jornalista John Habich e tem um filho, comentou que apenas imaginava a magnitude da dor, mas reforçou que as pessoas costumam confundir luto com depressão.
- O luto é algo que responde a um acontecimento e que vai melhorando com o tempo. A dor paralisa, mas daqui a seis meses vemos pessoas já conseguindo reagir ainda que minimamente. A depressão, em comparação, tende a piorar. Alguém paralisado com depressão provavelmente estará pior dentro dos mesmos seis meses- comentou.
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Solomon disse também que o luto é uma manifestação de dor provocada pelo amor que se sentia pelos que se foram, e que às vezes um processo pode desencadear o outro.
- O luto é sinal do amor que você sentia, mas a paralisia pode ser algo muito ruim.
Ao falar sobre a morte de sua mãe, evento traumático em sua vida, Solomon comentou que na época foi consolado por amigos americanos e ingleses. Os primeiros, otimistas de que a superação do luto viria em breve. Os ingleses, afirmando que a perda era algo de que jamais ele iria se recuperar, ainda que aprendesse a lidar com ela.
- Acho que simpatizo mais com essa definição inglesa. A ideia de que a qualidade desse sentimento pode mudar ao longo do tempo, mas que ele sempre estará ali.