
O Canto Livre foi protagonista de peculiar trajetória no começo dos anos 1980, época em que a música gaúcha vivia uma democrática efervescência por conta de interação de artistas empenhados em aproximar campo e cidade no gosto do público jovem. Neste cenário, o grupo vocal marcou território transitando entre o canto lírico - seus integrantes se conheceram no Coral de Câmara do RS -, o repertório regionalista que embalava festivais nativistas por todo o Estado, e a música popular de pegada mais urbana. A mistura agradava tanto que se refletia em temporadas com shows lotados na Capital.
A primeira formação do grupo contava com com Elaine Marques, Fernando Cardoso, Vânia Mallmann, Miriam Kelm, Selma Martins e os irmãos Jair e Jairo Kobe. Entre idas e vindas e diferentes integrantes, o Canto Livre anuncia seu retorno com um show único, domingo, às 20h, no Theatro São Pedro.
- O fato de todos no grupo terem outras atividades acabava dificultando as reuniões - diz Vânia. - Mas estamos numa fase da vida que podemos nos organizar para não parar mais.
A ideia do retorno foi amadurecida durante a temporada que Jair Kobe fez em abril no São Pedro com seu personagem Guri de Uruguaiana. Vânia, Jairo, Selma e mais Calique Ludwig e Pedro Guisso, dois companheiros de longa data nesta formação, participavam como a família do divertido guasca.
- Quando era revelado que eles eram o Canto Livre e que estavam voltando, a reação da plateia era muito entusiasmada - destaca Jair, que, em razão de sua agenda com o Guri, entrará em cena com os companheiros eventualmente.
O espetáculo ganhou o nome Amigos e Canções em razão do clima de celebração. Eles receberão no palco parceiros como Elton Saldanha, Sergio Napp e Luiz Carlos Borges e mostrarão um repertório de três fases do grupo: coral, campeira e urbana.
- No momento coral, vamos cantar Belle qui Tiens ma Vie, do século 16. Haragana é um pot-pourri de músicas gaúchas, que tem peças do folclore. Também tem Lupicínio - adianta Vânia.
Entre as canções próprias estão Inimigo Comum e Luz do Coração, ambas de Guisso e Napp, e Oi, Olá, Tudo Bem, de Calique.
- O Canto Livre surgiu no ambiente dos grandes festivais, que revelaram muita gente talentosa mas não existem mais - afirma Jair Kobe. - Poucas rádios tocam música popular brasileira. Quando tu vês Luan Santana e Anitta serem premiados como intérpretes é brabo. Fecharam-se portas, mas abriram-se outras. A internet facilita mostrar nosso trabalho ao público.
Repertório
O Canto Livre vai lembrar três fases de sua carreira: os tempos de Coral de Câmara do RS, canções campeiras (como Baile de Candieiro, Bailanta do Tio Flor e No Sangue da Terra Nada Guarani) e temas urbanos (Desgarrados, Horizontes, Porto Alegre É Demais, entre outras). O grupo também vais mostrar composições inéditas.
Vozes em harmonia
Ao vencer a Vindima da Canção, de Flores da Cunha, em 1981, o Canto Livre foi oficialmente apresentado, defendendo a música que deu nome ao grupo, com letra de Sergio Napp. O grupo consagrou um estilo, calcado nas harmonias vocais, que, no Rio Grande do Sul, era explorado apenas no regionalismo, por formações como o Conjunto Farroupilha e o Caverá. Nacionalmente, as referências nessa seara são, entre outros, MPB 4, Quarteto em Cy, Boca Livre e Garganta Profunda. O grupo gravou dois LPs, Canto Livre (1982) e Comunicação (1984).
- Os shows do Canto Livre eram muito bons - lembra Arthur de Faria, músico e jornalista. - Além do gênero único na música popular gaúcha à época, eles incorporavam a performance teatral e o humor, elementos que o Jair Kobe retomaria com o Guri de Uruguaiana.
Segundo Arthur, o sucesso do Canto Livre se deu em um período específico e relativamente curto.
- Entre o final dos anos 1970 e o começo dos 80, despontaram com muita força artistas como Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira, Totonho Villeroy, Nei Lisboa. O Canto Livre era dessa turma. Ali por 1984, 85, o pessoal do rock meio que soterrou todo mundo.
A tradição dos conjuntos vocais perdeu espaço no Brasil, mas Arthur destaca que ainda existem bons grupos em atividade como o Vésper, de São Paulo.
Serviço
Domingo, às 20h.
Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº).
Onde estacionar: na área do Multipalco, a R$ 18 e R$ 12 (sócios
da AATSP).
Ingressos: Plateia e cadeiras extras (R$ 70), camarote central (R$ 50), camarote lateral (R$ 40) e galeria
(R$ 20). Desconto de 50% para idosos
e sócios Assoc. Amigos do TSP e de 20% titular e acompanhante do Clube do Assinante. À venda na bilheteria do teatro hoje, das 15h às 21h, e amanhã, das 15h às 18h.