Fábio Prikladnicki
Observando uma réplica do quadro Hamburgo Velho (Forno de Pão) (1956), de Ernesto Frederico Scheffel, a agropecuarista Rosalia Tereza Sroczynski, 49 anos, recorda:
- Tínhamos um forno assim lá em casa, só que era de barro em volta. Lembro da minha mãe colocando o pão para assar.
Essa memória não veio em um museu, mas no corredor principal do Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, onde seu marido - o também agropecuarista Milton Willy Jochims, 76 anos - está sendo tratado. Lá, foi inaugurada, na semana passada, uma exposição permanente com 140 reproduções de quadros dos séculos 19 e 20, principalmente de autores gaúchos como João Fahrion, Pedro Weingärtner e Leopoldo Gotuzzo. Contemplando o óleo sobre tela de Scheffel ao lado da mulher, Jochims brinca:
- Seria bom se os pacientes pudessem levar para casa um quadro de que gostassem.
A ideia é aproximar pacientes, familiares e funcionários de obras dos acervos da Fundação Scheffel, em Novo Hamburgo, da Aplub e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), ambos em Porto Alegre. Parcerias com outros acervos estão no horizonte.
As réplicas são realizadas em tecido canvas, algumas delas acrescentadas de uma camada de verniz que confere ainda mais veracidade. Depois, são emolduradas, como se fosse para valer.
- Acho que é uma cópia muito perfeita - aprova Rosalia.
Muitos dos frequentadores do Instituto de Cardiologia jamais estiveram em um museu, como é o caso da aposentada Alzira Rodrigues de Souza, 71 anos, moradora de Balneário Gaivota (SC), que acompanha o marido em um procedimento médico. Sua filha, a dona de casa Nadir Rodrigues de Souza Silva, 46 anos, já esteve em museus de objetos históricos, mas não de arte. Nadir afirma que a cultura ajuda a superar esse momento sensível.
- Adoro pintura, a gente entra nessas telas. As obras e o piano ajudam, dão uma paz - observa, referindo-se aos pianistas que se revezam diariamente em recitais no saguão do hospital.
O diretor-presidente do Instituto de Cardiologia, Ivo Nesralla, lembra que o corredor onde hoje está a exposição era, antes, "um horror", com pouca iluminação e pôsteres nas paredes:
- Agora, os pacientes de enfermidade cardíaca ouvem música e encontram um museu.
Responsável pelo projeto da exposição, o superintendente-geral Alberto Beltrame destaca:
- Uma das funções é humanizar o ambiente hospitalar, com uma concepção de gestão de serviço de saúde. E temos uma função educativa. Passam por esse corredor cerca de 2 mil pessoas por dia.
O projeto foi realizado com uma doação de R$ 160 mil - dos quais já foram utilizados R$ 60 mil - vinda de duas empresas privadas. Agora, o plano é colocar outras réplicas nos demais espaços de circulação do hospital. Há, também, a ideia de lançar um catálogo com as obras.
PROGRAME-SE
> A exposição pode ser visitada das 7h às 23h. O Instituto de Cardiologia fica na Avenida Princesa Isabel, 395, fone (51) 3230-3600, em Porto Alegre.
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