
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) vai comemorar 60 anos em um concerto com ingressos já esgotados nesta sexta-feira (22/8), às 20h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, como parte de uma turnê nacional. Orquestra brasileira com maior repercussão internacional, a Osesp tem como regente titular a americana Marin Alsop. Em entrevista por e-mail a Zero Hora, ela analisa o potencial das orquestras do país e o desafio de conquistar um público amplo.
Concerto da Osesp terá obras de Grieg, Tchaikovsky e Carlos Gomes
A senhora acredita que outras orquestras brasileiras podem rivalizar com a Osesp no futuro próximo?
Conheço e admiro o trabalho de Fabio Mechetti (diretor artístico e regente titular da Filarmônica de Minas Gerais). Tínhamos o mesmo empresário em um momento anterior de nossas carreiras. Tive o prazer de ouvir a Orquestra Sinfônica Brasileira (do Rio de Janeiro) com Roberto Minczuk e sei de muitas outras orquestras e outros maestros excelentes. Estamos em uma era empolgante no Brasil.
A Osesp está construindo uma carreira internacional, tocando nas principais salas de concerto e gravando por selos com distribuição no Exterior. Como a senhora analisa a importância do Brasil na música de concerto mundial?
A Osesp está ganhando reconhecimento e admiração como resultado de gravações, turnês e transmissões internacionais. Localmente, temos grandes plateias e um apoio tremendo. As pessoas estão curiosas e realmente receptivas com a Osesp.
Relembre reportagem sobre a Osesp publicada em 2013:
Osesp busca repercussão internacional
"As únicas pessoas que ainda acham que a música de concerto não é popular são as elites", diz Arthur Nestrovski
As principais orquestras no mundo têm orçamentos generosos. Reunir e manter um grupo de talentos é muito caro. O que as orquestras emergentes do Brasil devem fazer?
Embora seja realmente caro apresentar os principais artistas do mundo, acredito que haja talentos jovens para criar programas inspiradores para orquestras com orçamentos menores. Temos sorte na Osesp de poder atrair os melhores músicos para integrar a orquestra e de chamar muitos dos principais solistas e maestros como convidados. O fato de o governo brasileiro valorizar as artes e apoiar muitas organizações é uma grande declaração social. Acredito que o futuro será o modelo da Osesp, combinando apoio do governo, de uma fundação, de indivíduos e de renda.
Em 2013, o maestro russo Vasily Petrenko foi citado como tendo dito que as orquestras "reagem melhor quando têm um homem à frente". Depois, ele disse que a citação foi distorcida. O fato é que há poucas maestrinas no mundo. A música de concerto ainda está assombrada pelo sexismo?
Espero que isso esteja mudando. Tenho um programa de bolsa para maestrinas que comecei em 2002 (www.takiconcordia.org). De nossas nove bolsistas, três são diretoras musicais nos Estados Unidos, quatro foram ou são assistentes em grandes orquestras e duas começaram suas próprias orquestras. Talvez precisemos de mais pessoas para participar e realmente mudar o contexto em vez de esperar que a sociedade mude.
Há uma ideia de que poucas pessoas entendem e apreciam a música de concerto. Por que a senhora acha que essa ideia está difundida?
Nos anos 1800, as pessoas estudavam música em muito mais detalhe para poder entendê-la de forma mais ampla. Entretanto, temos a chance de alcançar muitos que são verdadeiramente curiosos, mas nós é que precisamos fazer isso. Na Osesp, estamos sempre pensando em como fazer conexões com os ouvintes.
A Ospa, orquestra do Estado do Rio Grande do Sul, está lutando para construir sua sala de concerto desde 2003. Agora, está prevista para 2016. Também está sem regente titular desde que Isaac Karabtchevsky saiu, em 2010. E perdeu músicos para a Osesp. Que conselho a senhora daria para a Ospa?
Aconselharia a procurar um jovem líder com uma grande visão e uma propensão ao trabalho duro inovador. Há muitos jovens músicos que abraçariam a chance de ser parte de um novo modelo orquestral. Acredito que vocês têm uma oportunidade única para pensar fora da caixa e construir a base de uma grande orquestra.