
Os primeiros dias do 42º Festival de Gramado foram marcados pela diversidade de gêneros e a irregularidade de resultados. Escolhido para abrir o evento, Isolados foi precedido por uma homenagem a José Wilker, curador do festival por dois anos, que faz uma ponta neste que foi seu último trabalho no cinema. Estrelado por Bruno Gagliasso e Regiane Alves, o longa de Tomás Portella investe no suspense. Mas a história do casal assombrado por criminosos derrapa na construção de um clima de tensão calcado em violência e desintegração psicológica (aos moldes de O Iluminado), sem avançar além dos clichês recorrentes.
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Já o primeiro longa em competição foi recebido com aplausos e lágrimas. Ganhador do Kikito de melhor filme em 2012, com Colegas, o diretor Marcelo Galvão mostrou em A Despedida outra história inspirada em vivências familiares. No caso, a do avô de 92 anos que cumpre uma série de pendências afetivas, entre elas reencontrar a amante 50 anos mais jovem. Nelson Xavier e Juliana Paes, nos papeis principais, estão ótimos. A clave emocional é pautada no ótimo uso da canção Esses Moços, de Lupicínio Rodrigues, a traduzir o estado do velho que quer aproveitar a vida até a última fagulha.
Exibido no sábado, o épico Os Senhores da Guerra, de Tabajara Ruas, sente o peso de sua ambição. A superprodução conta a história de dois irmãos (Rafael Cardoso e André Arteche) que se veem em lados opostos na guerra entre chimangos e maragatos, entre 1923 e 1924. Mas a trama tem a fruição prejudicada pelo excesso de personagens e situações referenciadas. O nervo dramático da narrativa, o drama fraternal, tem seu conflito amortecido na tentativa de dar conta do complexo painel histórico, o que se mostra picotado e confuso. Talvez isso resulte do fato de o projeto original ser o de dois longas, que acabaram condensados em um só. A minissérie de TV pensada pelo diretor pode ser a solução para dar ao projeto o ritmo e o foco planejados.
O outro drama de guerra baseado num episódio real apresentado no sábado tem melhor resultado. Com locações na Itália, A Estrada 47, de Vicente Ferraz, acompanha a heroica missão de um pelotão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a II Guerra Mundial. Daniel de Oliveira e Júlio Andrade lideram o bom elenco, e a produção é caprichada, à altura dos registros americanos e europeus sobre a II Guerra. A bela história de coragem e camaradagem, no entanto, só poderia ser contada pelo cinema brasileiro.