
Renata Sorrah tem muitos personagens marcantes na carreira - de Heleninha Roitman, a alcoólatra de "Vale Tudo" (1988), a Zenilda, a dona de bordel de "A Indomada" (1997). Mas a atriz de 67 anos é lembrada mesmo pela lendária vilã Nazaré Tedesco, de "Senhora do Destino" (2004). No ar em "Geração Brasil" como Gláucia Beatriz, ela falou com o TV Show no intervalo das gravações da novela.
ZH - Antes de Geração Brasil estrear, especulava-se que Gláucia seria uma nova Nazaré. Você sempre disse que eram dois tipos diferentes. A vilã das sete é diferente da das nove?
Renata - A trama das nove é sempre mais densa. A Gláucia, em uma novela mais tarde, seria bem mais carregada na maldade. Às sete, e, especificamente, no texto do Felipe Filipe Miguez e da Izabel de Oliveira, a vilã tem mais humor. Então, a vilania vai até certo ponto. Mas a Gláucia não é uma doente, uma psicopata, como era a Nazaré. Ela é uma mulher sozinha, triste, mal-humorada, invejosa e com muita mágoa do filho. Aliás, esta é a grande diferença. Nazaré amava a filha. A Gláucia odeia o Jonas, e é uma péssima mãe e avó.
ZH - Como é fazer essa vilã com uma pitada de humor?
Renata - Acho que toda vilã, sempre que possível, precisa ter um pouco de humor e alguma coisa humana, senão fica um personagem maniqueísta. Ninguém é mau sempre. Isso você pode fazer num filme ou no teatro. Agora, em 180 capítulos, sem variações, não é possível.
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ZH - É mais fácil fazer a vilã?
Renata - Em anos de carreira, só fiz uma grande vilã: a Nazaré. Mas as pessoas acham que fiz muitas. É muito mais interessante fazer esse papel do que a mocinha. Fiz muitas mulheres neuróticas, nervosas, alcoólatras. A Nazaré foi uma das vilãs mais interessantes da TV brasileira. Ela era sensacional e tinha algum humor. Em qualquer novela, os vilões são o tempero da história. E o texto do Aguinaldo (Silva, que atualmente escreve "Império") é muito bom. Nunca inventei nada, tudo vinha escrito por ele. Claro que a maneira de fazer também influencia.
ZH - "Geração Brasil" tem um formato novo, que interage com internet e uma trama atual. Novas formas de fazer novelas estão surgindo. Você acha que é o momento da teledramaturgia se reinventar?
Renata - Acho que algumas coisas precisam ser reformuladas. E é o que a Globo vem tentando fazer, revendo fórmulas e padrões. É possível fazer 30 cenas num dia e todas terem a mesma qualidade? Será que dá para gravar seis capítulos por semana e todos serem bons? Não, não pode. Acho que o que a gente faz no Brasil, e na Globo, é uma loucura, mas fica bom. É praticamente um longa-metragem por semana. Me pergunto: será que as novelas deveriam ser mais curtas? Outra coisa: a TV americana deu um salto de qualidade quando chamou o que há de melhor no cinema e trouxe para as suas produções. Mas aí, é preciso ter também uma reeducação do público. Muitas vezes, na menor dificuldade, é comum o telespectador dizer que não gosta pois não entende a trama. Há muitos anos, fiz "Casarão" (1976), uma novela com três tempos narrativos. E o público achou ruim porque não entendia. É um vício esperar que a história venha toda mastigada.
ZH - Você acha que a fórmula dos seriados americanos pode ser um caminho?
Renata - Investir em séries, tipo "Breaking Bad", pode ser bom. Tivemos esse embrião do que acontece hoje nos Estados Unidos há um tempo com Malu Mulher e Plantão de Polícia. Não sei porque paramos. O brasileiro é muito bom fazendo TV. Acho que chegou a hora de seguirmos um caminho novo. A Globo vem tentando. "O Rebu" é um exemplo. Chamar o Walter Carvalho, um dos maiores diretores de fotografia do cinema, é interessante. Acho que é por aí o caminho.
Nos bastidores
- Durante as gravações das cenas em que Sílvio (Luiz Henrique Nogueira) e Marisa (Titina Medeiros) brigam e resolvem se separar, a tensão tomou conta do estúdio.
- Em sua segunda novela, Titina era a mais ansiosa. Ouvia com atenção as orientações da direção. Enquanto isso, Renata demonstrava total controle de cena.
- Para Titina, que continua a residir no Rio Grande do Norte, essa virada dos personagens era um momento tenso em um núcleo carregado no humor.
- O entrosamento entre Luiz e Titina ajudou bastante. Casal em Geração Brasil, eles trabalharam juntos em Cheias de Charme. Miguel Roncato também atuou com eles na novela de 2012.
- Mas a intimidade é ainda maior entre Luiz e Renata, que já trabalharam juntos em sete folhetins.