Luiza Piffero
Com apenas 80 páginas, A Morte de Ivan Ilitch figura entre as obras-primas de Leon Tolstoi (1828 - 1910), ao lado de romances como Guerra e Paz e Ana Karênina. O texto, contudo, não é adaptado com frequência para o teatro, desafio que a mineira Cácia Goulart assumiu no espetáculo homônimo que traz à Capital. O Porto Alegre Em Cena apresenta a montagem do Núcleo Caixa Preta nesta segunda, terça e quarta, às 18h, na Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307). Os ingressos estão esgotados.
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Publicada em 1866, a novela narra a história de Ivan Ilitch, juiz em ascensão que é acometido por uma doença misteriosa. Aos poucos, é excluído por familiares e amigos, descobrindo a hipocrisia daqueles que o cercavam. Além da crítica social, Tolstói expõe no livro uma potente reflexão sobre a morte.
- Ninguém sai ileso dessa obra - opina Cácia, que além de interpretar Ilitch assina a direção. - Não tem como não passar pelo lado patético da vida, mas o livro busca também o humor e a poesia.
Não é a primeira vez que ela interpreta um clássico personagem masculino. Por cinco anos, Cácia viveu Bartleby, de Herman Melville. Para adaptar a novela de Tolstoi, pediu ajuda ao ator Edmilson Cordeiro, com quem construiu uma adaptação livre e autoral, baseada na tradução de Boris Schnaiderman. Por ser tão centrada na figura de Ilitch, a história, que originalmente é narrada em terceira pessoa e tem vários personagens, virou um monólogo. Cácia aparece em cena paramentando-se para se tornar o personagem. Reminiscências da sua infância substituem referências à Rússia, assim como citações do universo jurídico e político ficam mais brasileiras.
- Emoldurei os embates da obra a partir do meu luto - explica Cácia, que deparou com o livro depois da morte da sua mãe.
O cenário simples se apoia principalmente numa mesa vazada que vira púlpito de plenário, cama, banheira, porta. O figurino em preto e branco exprime a realidade austera do protagonista, e a ambientação ainda é reforçada pela música original e a luz expressionista.