Quanto tempo dura a paciência para ouvir uma música clássica? Estamos no tempo do videoclipe, do videogame, do curta-metragem e da narrativa curta, das frases abreviadas. Mas no erudito a peça curta sempre foi vista com suspeita, a não ser que uma esteja atada a outra, fazendo do colar de coisas curtas uma peça... longa. Talvez seja por isso que os programas de concerto passaram a especificar o tempo de duração das músicas. Não sei nem quando e nem de onde surgiu esse costume. Deve ser algo como o aplaudir de pé: antes só se aplaudia de pé aquilo que nos forçava efetivamente a sair do torpor de plateia. Agora se aplaude tudo de pé, num reflexo de joão sem mola. Não tenho dúvida de que até um espirro bem dado, se dado num palco, será aplaudido de pé. Leia colunas anteriores de Celso Loureiro Chaves
Assim com a informação dos tempos das peças do programa erudito, que agora é informação vital. Alguns se ofendem com o novo costume. Preferem o mistério da viagem rumo à duração desconhecida. Já eu, não.
Acho a ideia bem simpática, me tranquiliza. Saber o quanto uma peça vai durar é preparar o espírito, é desarmar a paciência. Uma sinfonia de Mahler: 70 minutos. Uma sinfonia de Mozart: 10 minutos. Já vai aí alguma constatação histórica a ser feita, mas que deixarei de fazer. Ou uma Bachiana de Villa-Lobos, que pode ter tanto menos de 10 minutos quanto mais de meia hora. Por isso é bom avisar, para que no meio da coisa toda a alma não fraqueje.
Aí está: antes de receber pela frente uma música clássica, é interessante saber o quanto a paciência deve estar preparada, o quanto o espírito deve estar vestido.
Pode que seja até uma providência de utilidade pública, a duração das peças anunciadas de antemão. Suponhamos alguém que não tenha intimidade com os clássicos e mesmo os deteste. De repente, acha-se prisioneiro de um Beethoven, de um Stravinsky. Melhor avisar o infeliz sobre o limite do sequestro temporário.
Senão, vá que bata a síndrome de abstinência de celular durante o adágio mais torturante. Desastre na certa.