Tem jeito de conversa entre amigos, com boas risadas em meio a pausas para reflexão, o livro Tomo Conta do Mundo, da psicanalista Diana Corso, que acaba de sair pela Arquipélago Editorial.
O título, que pode causar certo estranhamento, foi feito para isso mesmo. É tirado de uma crônica de Clarice Lispector em que ela escreve: "Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. No Jardim Botânico, então, fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar de mil plantas e árvores (...) Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas".
Diana, assim, nos apresenta um mundo do ponto de vista dos detalhes, do mínimo, da ninharia, exatamente como Clarice fez - e que é a nata do ofício de lidar com gente. As duas, aliás, embora criadas no Brasil, nasceram no Exterior, Clarice, na Ucrânia, e Diana, no vizinho Uruguai, em Piriápolis, de ascendência húngara. Talvez, por essa espécie de diáspora do bem, Diana tenha criado um parentesco afetivo com a obra clariciana.
Com belo projeto gráfico de Paola Manica, que partiu de um bordado ao molde dos tradicionais trabalhos húngaros, o livro traz crônicas publicadas aqui na Zero Hora, na revista TPM e na Vida Simples, além de um ensaio inédito sobre as personagens femininas de Virginia Woolf.
Diana tem um texto elegantíssimo, escrito realmente com todo o cuidado de quem toma conta do mundo e que sabe que Deus (e o diabo) mora nos detalhes. Ela leva o leitor a refletir sobre a solidão, a pressa, o amor, a infância. Sobretudo, e com uma carga de afetos impressionante, tira o véu de ideias prontas sobre os vínculos amorosos, sobre as orientações sexuais e sobre a feminilidade, temas que lhe são bastante caros.
Compra recomendadíssima para as feiras de livros da Capital e do Interior, que se realizam entre os meses de setembro a novembro, Tomo Conta do Mundo também é o depoimento de quem aprendeu a leveza ao viver. E que nos ensina, de forma generosa e querida, a relativizar as agruras e a buscar a eterna inquietude por algo melhor.