
"Oi?"
"Oi."
É assim que o serial killer Edu (Bruno Gagliasso) conquistou o coração de Ray (Débora Falabella) na estreia de Dupla Identidade, o thriller psicológico que Glória Perez preparou para o tarde da noite da Rede Globo.
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Não há como acusar a série de desperdício de tempo. Na primeira cena, Edu troca um par de prosa com uma menina e, assim de repente, comete o seu primeiro assassinato na TV. Depois disso, somos apresentados a Vera (Luana Piovani) e Dias (Marcelo Novaes), e eles já vão se desentendendo desde o início - coisa do passado, não fica claro, é um suspense.
Mas não é tão suspense assim. A personagem de Piovani, volta e meia narrando a trama em off, estilo onisciente, decifra desde o início a personalidade, as manias, a "sede pelo poder" do assassino. Não há nada que nos permita descobrir como ela chegou a tanta clarividência além da informação de que ela "fez um curso no FBI". É um outro jeito de dizer que ela é tão boa quanto o pessoal do CSI, então melhor não fazer perguntas.
O conflito entre os dois policiais: Vera quer investigar a eventual relação do senador Oto (estereótipo do político mentiroso) com o assassinato, Dias faz o tipo policial machista e servil - não quer saber de afrontar as autoridades.
Edu, além de ser bajulador de senador e assassino em série (com o perdão do trocadilho), nas horas vagas joga futevôlei em Copacabana. Bastou rolar uma bola até as pernas de Ray e dizer "oi" que, cena seguinte, os dois já trocavam confidências em um restaurante. Ao encarar o desafio de interpretar uma personagem que se apaixona cintilantemente em meia hora, no mesmo dia em que a sua amiga foi encontrada morta, Débora Falabella fez um grande trabalho.
Numa das boas cenas do episódio, Edu contempla a noite do Rio de Janeiro do alto de qualquer lugar, e ali abre os braços, como o Cristo, ao som de uma metaleira nervosa. Guitarra distorcida e tipografia desarranjada buscam dar o tom de violência da série, que fechou a estreia como começou: outro assassinato.