Fábio Prikladnicki
Não sei quando começou esse costume do público brasileiro de aplaudir espetáculos sempre de pé. Acho que já estava aí quando passei a acompanhar teatro profissionalmente, há uns 12 anos, mas não posso dar certeza. Tenho a impressão de que virou um assunto de debate mais recentemente. Parece que a sala de espetáculo se transformou em uma sala de estar, em que anfitriões e convidados agradam-se mutuamente à custa da sinceridade. A etiqueta suplantou a ética, para ser mais dramático. Mas a quem interessa que seja assim?
Leia colunas anteriores:
"Parece que o teatro brasileiro está de costas para o passado"
"Onde estão os críticos?"
Meu palpite é que essa dinâmica é cômoda para ambas as partes: os espectadores não precisam enfrentar, com suas verdadeiras opiniões, o olhar dos artistas, e estes têm a ilusão de que estão sempre agradando.
É claro que se perde a medida da repercussão dos trabalhos. Se os espectadores estão sempre de pé ao final, como saber se acharam excelente, bom, regular ou mesmo muito ruim? Admita que você já se pegou prestando mais deferência a um espetáculo do que julgou que merecia. Nesses tempos em que ficar de pé virou regra, aplaudir sentado parece uma ofensa. Que dirá vaiar.
Não estou elogiando a falta de educação. Estou falando daquela vaia metafórica que é resultado de um choque, talvez uma incompreensão frente a uma proposta à frente do tempo.
Será que os artistas ainda têm a ambição de desafiar o público em meio a batalhas por bilheteria e financiamento? E será que os espectadores estão dispostos a serem instigados em seus princípios mesmo quando têm alternativas que resultam em entretenimento fácil após uma árdua semana de trabalho?